16 May 2010

A linha de fuga, botanica e magalhaes em Kunming

Kunming e' a cidade mais segura da China. 5 milhões de habitantes partilham um excelente clima e o ar citadino menos poluído da China. E' uma cidade com ruas agradáveis e um parque em volta da universidade. E' uma cidade jovem de gente simpática.

Em Kunming vendo a minha bicicleta, numa loja oferecem-me 350yuan (55usd), exactamente metade do preco de compra e fico todo contente. "Volto amanha!". Vou ainda a outra loja onde encontro o Alex que tinha ido buscar a sua bicicleta de uma reparação. Ele vê a minha bicicleta e diz "It's a great bike". Acabo por lhe vender a bicicleta pelos 55 usd. Vamos ate casa dele para deixar a bike mas ele diz que quer ir dar uma volta de bicicleta, e assim fomos, para oeste de Kunming.

O passeio por fora da cidade em volta do grande lago a sul da cidade deveria ser bonito mas acabamos em estradas cheias de camiões e viadutos. Chegamos ao lago num pequeno bairro cheio de gente e coisas. As casas estão todas marcadas com o caracter chines que Alex identifica como significando: "demolish!". Um bairro para demolir. O preço do desenvolvimento!

Num restaurante do bairro comemos amendoins fritos e bebemos cerveja e chá. Temos a companhia de chineses. Alex e' fluente em Mandarim e tem portanto um acesso a' China bem diferente do meu. O muçulmano que se senta na nossa mesa e' bem chinês, mas muçulmano e diz que a minha barba e' estranha mas gosta de mim: "gaoxing renshi ni!". E diz a certa altura: "podemos ser amigos, não precisamos de fazer negocio para ser amigos", muito chinês!

Alex e' um jovem etnobotanico que estuda as implicacoes sócio-culturais do cultivo e da recolha selvagem de plantas raras no Yunan e e' um curioso dos cogumelos selvagens. Há mais diversidade de cogumelos selvagens no Yunan que no resto do mundo todo junto.

Com Alex falo de filosofia e a sua curiosidade infinita põem-me a falar durante horas sobre linhas de fuga, esquizofrenia, filosofia da diferenca, identidade, rizomas, corpos sem orgaos, subjectividade, individuacao e as implicacoes praticas dessas ideias: o ascetismo pela aceitacao do mundo tal como e' e respectiva desutilizacao dos esquemas morais standard, e o anti-ascetismo atraves do culto do devir, da minoria e do Outro. Ele e' tao inteligente que me ajuda a compreender tudo o que digo. Ele e' tao curioso que me ajuda a reencontrar a minha curiosidade um pouco perdida nestes meses de viagem. Um jovem!

Acabamos no centro de Kunming, a' meia-noite, a comer Hot Pot de peixe em sopa verde, uma espécie de fondue chines em que se colocam as coisas cruas dentro de um pote com uma sopa muito verde a ferver. O peixe foi tirado do aquário a' mao e partido em pedaços finíssimos (algo entre sashimi e carpacio). A acompanhar: tofu, sangue de pato, cogumelos, couves e batatas. Tudo dentro do Hot Pot com molhos picantes para aquecer ainda mais as coisas.

Falamos de Europa e America, ele quer viver na Europa, eu quero viver na America. Ele pergunta-me Portugal e diz algumas palavras portuguesas. Falo-lhe de Fado e poesia, de Pessoa como sempre falo quando falo de Portugal. Mas desta vez uma novidade! O mais notável Português não e' o Vasco da Gama, nem o Pessoa (e muito menos o Camões). O mais notável Português e' Magalhães: o maior de todos os viajantes e' Português.

E eu ainda com o mundo por circundar!


2 comments:

Anonymous said...

É caso para dizer que o Mundo é Pequeno: Temos estas flores em Gião.
Imaginário

Telemaco said...

As fotos das flores vieram do Porto! :-)