26 February 2010

o post de abertura e a belgica

Ha quem escreva sobre o post, ha quem imprima o post, ha quem queira os factos, ha quem diga para me deixar de filosofias, ha quem cuide da M, ha quem me leve a jantar em bruxelas, ha quem me fale de neurobiologia e me empreste a casa em antuerpia; ha ja as vozes dos livros espalhadas por mim, ha vontade de escrita e pouco metodo, ha Duvel e gofres, ha muitas ideias; enfim, ha ja a diferenca em forma de estaladaria na cara!

Acho que vou criar uma label chamada o "blog seca" para posts assim:
"cheguei a bruxelas na quarta e foi muito giro! Fiquei sorridente so de ouvir o frances; o portugues; o neerlandes e o ingles todos misturados. O R acolheu-me em sua casa e fartamo-nos de conversar. O Brughel e o Bosch do Fine Arts museum em bruxelas foram vistos a correr mas impressionaram. A tentacao de santo antonio destacou-se juntamente com a coleccao de arte do seculo XX belga e holandesa. O jantar com a G foi divertido e fez-me sonhar em viver em bruxelas. Cada vez gosto mais de Bruxelas. O fim de semana sera na holanda em roterdao onde vamos encontrar o A. Vamos a casa do espinosa e ao escher museum"
Que seca... :-)

23 February 2010

the Vanishing Line

Uma nova viagem. Não há plano. Há uma mochila às costas com livros lá dentro e um pé à frente do outro.


Depois de recuperar a paz perdida, que presumo será fácil, o que quero desta viagem? Viajar e viver são dois verbos que permuto continuamente. O que quero desta vida? E aqui pergunto-me porque está a pergunta "Quanto tempo?" dentro de toda a gente?
Não sei quanto tempo vou viver ou como vou viver. Sei aquilo que se mostra perante mim em cada evento. Derivo éticas a cada esquina. "There is no answer, there is no question, thus, there are no ethics".

Para viajar/viver não é preciso mudar de local, basta viver/viajar por dentro.
É possível viajar sem sair do sítio. É possível experimentar o que o drogado sente sem tomar drogas.
Os verdadeiros nómadas não se deslocam. O mundo à sua volta é quem se desloca.
Mas para isso é preciso ultrapassar o problema da diferença indetectável. No território conquistado e repetido, em casa, a diferença torna-se indiscernível. Noutro ambiente, em viagem, a diferença é tão grande que não é necessário esforço para reparar na diferença. Com a viagem, aumentam as diferenças. É preciso portanto viajar fisicamente. Apanhar o comboio é aumentar o potencial de detecção de diferenças.

A viagem começa onde acaba a diferença entre eu e o outro, entre o nós e o eles. A viagem começa na desfragmentação do eu, na sua integração com o outro, no ver pelos olhos dos outros, na experimentação do "Ser o Outro". Não é tédio mas é intermédio entre mim e o outro. Ser drogado sem droga, "ser sem ser, become". O viajar começa onde acaba o ser e começa o devir (o become). Devir oriental (arab), ou qualquer outra coisa. Esta é a linha de fuga entre o eu e o outro. Uma linha de voo claro. Uma linha de integração do "eu muçulmano, tu ocidental".

"A desterritorialização e a reterritorialização cruzam-se no duplo devir. Não se consegue já distinguir o autóctone do estrangeiro, porque o estrangeiro se torna autóctone na terra do outro que não o é, ao mesmo tempo que o autóctone se torna estrangeiro, em relação a si próprio...", Deleuze
prazer da casa não está em estar em casa, está no chegar a casa, no voltar. Para isso é preciso sair. É preciso traçar linhas de fuga e depois voltar. As linhas de fuga a desterritorializar; desterritorializações que não existem sem reterritorializações, voltas a casa, mas principalmente, voltas a novas casas, ou então, voltas à mesma casa que já não é a primeira casa.

Até já.
Ah, 1 de Março, cidade do Cairo. Não sei quanto tempo. Aviões evitam-se. Egipto à Turquia. Kyrgyzstan até Beijing. Japão aos States. Ou se calhar volto para a semana. Ou se calhar o contrário. Ou tudo o que tu quiseres.

13 February 2010

Are you sick?

You feel unsociable and aimless. You don't feel that emotional lately.
DON'T WORRY. You have a very SIMPLE and UNCOMMON disorder (from ICD-10):
F20.6 Simple Schizophrenia
An uncommon disorder in which there is an insidious but progressive development of oddities of conduct, inability to meet the demands of society, and decline in total performance. Delusions and hallucinations are not evident, and the disorder is less obviously psychotic than the hebephrenic, paranoid, and catatonic subtypes of schizophrenia. The characteristic "negative" features of residual schizophrenia (e.g. blunting of affect, loss of volition) develop without being preceded by any overt psychotic symptoms. With increasing social impoverishment, vagrancy may ensue and the individual may then become self-absorbed, idle, and aimless.

02 February 2010

The Postmodern Condition (Lyotard, 1979)

"Simplifying to the extreme, I define postmodern as incredulity toward metanarratives. This incredulity is undoubtedly a product of progress in the sciences: but that progress in turn presupposes it. To the obsolescence of the metanarrative apparatus of legitimation corresponds, most notably, the crisis of metaphysical philosophy and of the university institution which in the past relied on it. The narrative function is losing its functors, its great hero, its great dangers, its great voyages, its great goal. It is being dispersed in clouds of narrative language elements--narrative, but also denotative, prescriptive, descriptive, and so on [...] Where, after the metanarratives, can legitimacy reside?"

01 February 2010

Pasolini's Christmas

It will probably rank as one of most beatiful movies I have ever seen. The most beatiful scene is Christmas:



Pasolini says that the Gospel is one of the many books of religious propaganda that had been written.
Christ empowered the weak, Christ is the protector of the weak. Nietzsche is the anti-christ when he talks about the need for protection of the strong against the weak.
This is the Nietzschean warning: the weak are controlling you, you live in a world made by the weak for the weak. That is the world of Christ. Christ says: be weak and I will protect you.
Christ, as this movie shows as no other, is not humble, he is not weak, he is an incredibly strong and obstinate young man. A powerful christ protecting the weak. Warning the masses: "be weak and you will be protected!".

O pensar sente-se? (plasticidade)

O pensar sente-se? Sem olhos nem ouvidos, onde estou? Onde estão estas palavras antes de ditas ou escritas? Porque me sinto cá na cabeça? Hábito? Que sensores de sensibilidade me fazem sentir na cabeça? Tenho glândulas tácteis nos neurónios? O tilintar dos neurónios sente-se? Por dentro?

Se a pergunta de Heidegger é "O que é uma coisa?", a de Bergson é "O que é pensar?".
A aparente inocência com que estes gigantes chegam, em pleno século XX, a estas perguntas é apaixonante.
Filosofar é sempre começar tudo de novo. E é precisamente para isso que o nosso cérebro não está preparado: pobre suporte biológico em dificuldades.
Sempre gostei da palavra plasticidade: capacidade de mudar irreversivelmente de forma. É o que fazemos todos os dias: cérebro. Falta-nos a capacidade de voltar atrás, ao início, de limpar. Sempre partimos de alguma forma já existente.