29 May 2010

Hong Kong

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Cheguei a hong kong pela noite e as ruas estavam com a luz do dia reposta pelos holofotes dos anuncios, a gente jovem caminhava pela causeway bay e perto da meia noite as lojas e restaurantes estavam cheios. O hostel era nojento e no dia seguinte parti para uma caminhada atraves de hong kong, os predios ora sao novos e brilhantes ora sao velhos e baços. As lojas de antiguidades e velharias imperam e entre os predios de 40 andares encontro um templo numa rua de escadas. O barco leva-me desta ilha para a peninsula onde ha mais predios novos e velhos e, como em toda a cidade, muita gente. Finalmente a China sobrepovoada.

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Ficam duas marcas no inicio de Hong Kong, a comida cantonesa (o Conguee e' uma sopa de peixe com, neste caso, carne de vaca; e a couve com molho doce e' maravilhosa) e os electricos muito estreitos de dois andares.

A Mirador House, ao lado das famosas Chungking Mansions, e' um so predio com 4 blocos. Sao 16 andares com uns 20 apartamentos por andar: 300 casas bem pequenas. Da rua, por fora um aspecto fantastico, por dentro, so visto na saida dos novos elevadores, um predio velho e mal tratado. No centro um espaco vazio que deixa ver de uns andares para os outros. O interessante e' que em cada apartamento, sim, tambem ha aqueles onde vive gente, mas a maioria, sao negocios. Ora guest houses (sao as dezenas), ora restaurantes. A variedade e' grande mas os restaurantes e os emigrantes indianos dominam. Ha' ate' lojas aqui no 15o andar do predio de habitacao convertido.
Na marginal ha um centro cultural, um museu de arte e uma das mais espectaculares vistas do mundo para a skyline de hong kong, longa linha de predios iluminados (foto roubada).


As 10 no pier 9 dock 4 estava a Kun, o Yimin e mais 30 amigos de olhos rasgados. Um iate leva-nos pelos canais fora, entre ilhas. Com vista para a skyline de hong kong, a norte e a sul, predios altos a perder de vista sao, aos poucos, transformados em verde. No destino uma praia onde varios barcos cheios de gente e, com a musica bem alta, fazem festas. Nos outros barcos ha muitos ocidentais, no meu so eu, o indiano de singapura e chineses. A nossa festa foi animada. Toda a gente trabalha com dinheiro: ora traders ora financas ora investment: banqueiros. Bankers que gozam e dizem: "I'm a baker!" ("sou padeiro").

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 (e mais uma ou duas)

O sol ja vai baixo e na ponta do barco a Kun experimenta um charuto bem grande com um indiano de Singapura. Ele faz corridas de porches na Australia. Ela comenta o comportamento de algumas das mulheres: uma ouviu dizer que havia no barco um banker, o indiano. O Yimin, que a acabou de conhecer, indica-lhe quem ele e' e, poucos segundos depois, diz-lhe que e' desempregado; a conversa acaba ali, ela vai falar com o banker que tem um porche. Em volta do barco nadamos e ha quem faca wake board.

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Voltamos a Hong Kong, eu, a Kun e o Yimin, e fazemos algo novo para mim, restaurante hopping: entramos num restaurante e pedimos alguns pratos, Comemos, falamos, tiramos fotos da comida e saltamos para outro restaurante onde provamos outras iguarias (so 49 claro :-)). Em Hong Kong  houve comida indiana, tailandesa, catonesa e chinesa, tudo maravilhoso!
Num dos restaurantes partilhamos a mesa com uma familia de quatro: o casal, uma filha adolescente e um rapaz de uns 10 anos. Pedem exactamente os mesmos pratos que nos e parecem felizes. Uma familia feliz que vai jantar fora. Na mesa redonda baixa estamos os 7 apertados a comer hamburger cantonesa. A conversa vai longa quando entramos no restaurante da sobremesa, onde ha gelados e guitarra. Todos gostam de musica.

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O bairro onde estamos faz-me lembrar Kuala Lumpur mas a verdade e' que e' o tipico bairro de uma cidade asiatica. A Kun diz que o bairro podia ser de uma cidade japonesa. Tal como em Macau, neste bairro ha muita prostituição e a cada canto motéis com quartos a' hora.

E depois houve minibuses back to the river que o Yimin descreve assim:
"Luis took out his guitar on the minibus we got on. My friend and I started humming and another guy on the bus started tapping his foot. The rain, tapping on the window, participated in our little concert.  "I like this ride, and I don't care where we are going," he says, and I felt the same."


No dia seguinte parto para Shanghai.

(mais algumas fotos de Hong Kong)

28 May 2010

Adeus ó Esteves!

Aos anos que eu nao relia a Tabacaria!
Qual Camoes, triste Camoes! Vai desaparecer o Portugues e o Portugal do Camoes e vai ficar so Pessoa (sem artigo antes!). Nem ele propriamente ficara, ficara so aquela "pessoa" e suas vozes: os seus ecos!
E por outro lado, portugues que e' portugues sabe a Tabacaria de cor! (a descapitalizacao do p e capitalizacao do T nao e' um detalhe).

"Ah, conheço-o; é o Esteves sem metafísica.
(O Dono da Tabacaria chegou à porta.)
Como por um instinto divino o Esteves voltou-se e viu-me.
Acenou-me adeus, gritei-lhe Adeus ó Esteves!, e o universo
Reconstruiu-se-me sem ideal nem esperança, e o Dono da Tabacaria sorriu."

A palavra mais interessante desta parte do poema e' "gritei-lhe"! Como e' que e' possi'vel esta persona, a que fala no poema, gritar? Este grito e' de uma violencia incrivel Ele nao e' nada mas grita? O grito e' tao forte que recconstroi universos!

27 May 2010

Macau - Descrito

Macau tinha o reencontrar com Pessanha. Mas o devir (become) nunca existe no actual. O devir (become) desaparece no momento da chegada: naquele preciso passo em que se chega. O devir e' o devir do actual. O devir e' a actualização do virtual. Desde o inicio do projecto ate' que ele comeca a acontecer. Ele e' o imemoravel acontecer das  coisas. Depois da concretização ja' nao ha devir. Em Macau ha' so' ja' outros devires, outros poemas.

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A Rua da Felicidade e' feita de lojas pequenas e todos dizem que era o Red Light District de Macau. Agora temos restaurantes e hospedarias. A hospedaria San Va tem paredes de madeira verde e e' muito antiga. Ali ao lado, entro numa loja de filatelia e na montra a nota que queria ver. Fora de circulacao estao as 100 patacas com a figura de Camilo Pessanha. Macau e' comida! Para alem do prego em pao e pastel de natas, comi noddles com lulas e vaca, noddles com ostras e vaca, tarte de ostras, sardinha assada (com pauzinhos), dumplings de legumes, dumplings de porco e depois a cozinha portuguesa e macaense...
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Em Macau esta' o meu primeiro sofa'! Macau de couchsurfing. Ja instalado na hospedaria a C envia-me uma mensagem a dizer que posso dormir no seu sofa. Resolvo ficar na hospedaria mas combinamos dar um passeio essa noite. A C e a J aparecem e levam-me a um mercado onde como o melhor fruto do mundo, mangostao (uma mistura entre lichias, banana e pera). Dali entramos nas zonas dos casinos e vemos um concerto ao vivo bem como algumas salas de jogo. No casino Lisboa, o mais antigo casino de Macau, a decoracao e' incrivelmente pirosa. Luzes e neons por tudo que e' lado que reflectem nos espelhos e cristais. No andar inferior ha um pequeno restaurante circular e o corredor a' volta e' onde andam as meninas em busca de servico. A J diz ao porteiro: "I wanna see the girls!". "Downstairs!" diz o porteiro. Elas andam a's voltas do restaurante como se tivessem um destino. A's voltas ate' que alguem as solicite. Muito produzidas, pouco vestidas e muito "plastificadas", nada de novo para prostitutas. Mas desta vez num casino. Pelo meio das atraccoes turísticas bizarras vamos conversando. Elas sao jovens, 23 anos, a J fez tudo Direito em Coimbra e faz investigacao em Macau, quer ser magistrada; a C faz design como free lancer e procura emprego pelo Oriente. E' tempo de voltar a' hospedaria.

No dia seguinte mudo-me para casa da J e da C e la' conheco outra C que e' tambem designer e quer viver na China! Sao muito simpaticas! A porta abre-se para mim. Como dizia outro couchsurfer: "para o couchsurfer, as portas das cidades deixam de estar fechadas. De portas abertas e sorriso na cara e' como se ve o mundo pelos olhos do couchsurf". O sofa afinal deu em colchao confortável no chao da sala. A casa tem condicoes ocidentais.

Nesse dia houve vagueares por Macau e uma ida a' praia na ilha a sul. O mar com por do sol por tras em Choc Van tem sinaletica ah portuguesa e a bandeira e' aos quadradinhos. Em cima, como um prego no pao no "Balneario Municipal" onde a senhora diz que nao fala portugues mas dispara a conta num portugues perfeito: "vinte e oito!". Mais ou menos 2 meses sem ver o mar. A paz e o ritmo ou o ritmo da paz, nao, a paz do ritmo do mar, tomo banho em Portugues.
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De manha o cafe e' de cafeteira e fico logo contente! A C acompanha-me num passeio por novas zonas de Macau: a avenida da republica com mais edifícios coloniais com vista para o mar e a ilha. Macau e' uma península e uma ilha. Macau tem meio milhao de habitantes, pequeno Macau ao lado dos 7 milhoes em Hong Kong. Este macau colonial com algumas torres e casas coloniais deve ser bem diferente das torres de Hong Kong mais primas de Singapura suponho. Depois vamos para a ilha onde ficam as vilas da Taipa e Coloane. Na vila da Taipa almoçamos no restaurante Castiço: feijoada a' portuguesa e bacalhau a' lagareiro com vinho tinto a acompanhar! Ja todos contentes rumamos a' praia de coloane onde ficamos ate tarde em companhia de umas Super Bock.

A' praia veio dar um tronco que nao era mais que um molho de palha atado a' mao. Houve cac,a ao tesouro na fantasia de que dentro da palha, haveria uma fortuna em hong kong dolares. Iamos ficar milionarios naquela meia hora em que desfizemos a palha ate ao centro. Uma quimera, mas do centro do tronco de palha so veio um cheiro podre: uma quimerda macaense!

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Voltamos a Macau para o concerto ao vivo do Zico, Lisboeta tornado Tavirense que canta e toca guitarra. Ai encontramos mais amigos portugueses. Foi um voltar a casa social, mas cruzado com um voltar a Timor, os colonos modernos vivem vidas de emigrante. Aqui trabalham com turismo e advocacia principalmente.
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No dia seguinte o Museu de Macau desiludiu mas nao o cafe Caravela onde comi um bitoque de qualidade e toquei guitarra umas boas tres horas. Por la apareceu o muito simpatico R, macaense de 19 anos que fala fluentemente chines, ingles e portugues e estuda na escola portuguesa. A sua vida dificil altera-me profundamente. Torna a minha experiência em luxo e sorte!
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Houve entao um ferry para Hong Kong depois deste 4 dias em Macau. Partir de Macau foi a mais dificil partida da viagem. Ha casa em Macau, e familiaridade, e coisas que sao muito minhas. Um cruzamento, este Macau pequeno de colonia e casinos. Talvez tenha sido o bitoque, ou talvez aqueles senhores portugueses no Caravela vestidos a' anos 80 com oculos grossos falando portugues com um sotaque leve e com negocios tortos. Ou os chineses, ou o chines falado portugues. Ou os pregos no pao, ou so a fachada de Sao Paulo. Ou o violino do Noel. Ou a casa das Cs tao proxima de casa. Macau deixa saudades!

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Mais algumas fotos de Macau aqui.

Macau - Poema

Mas a maior coisa que vi em Macau foi um poema escrito no chao, logo apos o balcao onde se usa o passaporte.

Proibido Permanecer


Ha tantas coisas que me agradam neste poema:
- estar escrito no chao
- estar escrito numa fronteira
- estar escrito em chines e portugues
- a palavra permanecer so' por si
- estar escrito a amarelo, como quem avisa mas nao castiga, como se ate pudessemos permanecer
- a aliteracao no p
- a troca dos Rs depois dos Ps
- e depois dos Ps e Rs, o balanco entre Be De e Me Ne (do bido e mane)
- o terminar em cer que e' tambem SER. Ser e' o que permanece. Depois de dito o poema transgride porque permance no seu CER final (como um eco)
- e finalmente, o paradoxo implicito: o "proibido permanecer" nao pode permanecer, e se o "proibido permanecer" nao permanece, entao ja se pode permanecer. Como quem diz: um dia, se o pensamento for suficientemente lento, ja se podera permanecer, mas hoje nao!

Impressoes sobre o meu primeiro sofa

(um pequeno contexto: couchsurfing e' uma comunidade online de partilha de sofas, em viagem contactamos pessoas pela internet que nos oferecem o seu sofa para dormirmos em sua casa, em Macau fiz couchsurfing pela primeira vez com gente de Portugal que me acolheu na sua sala por duas noites)

Um sofa e' uma privacidade partilhada, uma privacidade invadida. E' um sorriso de estranho tornado sorriso de amigo num piscar de olhos. E' ser amigo sem ser conhecido. E' uma casa que so' nao e' a nossa. E' caminhar por vidas a dentro em flashes de ilusao, e nao chegar a entrar. E' claramente um cheiro, cheirar na diagonal um sitio onde nao chegamos a estar. Um sofa e' um cruzar, porque e' efemero, mas um cruzar em casa, o menos efemero.

Um sofa portugues e' muito mais! E' um dizer Bom dia com cafe da cafeteira. E' conforto de casa. E' um grande voltar sem partir. E e' tambem esse voltar sem encontrar o velho que se conhece. E o estar assim tao longe em casa faz deste sofa um espaco pequeno, familiar. Mas depois ha quem ja ca esteja desde sempre e da-se a explosão do pequeno. Passa a pequeno extenso nas casas verde-agua e na feijoada. Nas catedrais ate'. Um sofa Macaense e' uma catedral pequena, velha. A casa velha e' Macau, o pequeno e' o sofa de apartamento. E tudo junto sao linhas de fuga consistentes. O sofa e os 500 anos de Portugal em Macau cruzados na minha memoria sao realidades muito novas. E o poder esta nos 500 anos de sofa e nos chineses em volta.

A consistencia traz sempre a ilusao do retorno. Como se me juntasse a um novo circo que sempre existira. O papel que represento e' tambem familiar. E' que sempre o representei. Eu colono, eu sofazeiro. Uma peca de teatro onde entro como sujeito e nada mais. Como marioneta de uma realidade antiga. E daqui extrapolo, para a vida, para a viagem: subjectifico-me. Aqueles binoculos no final do Salo do Pasolini explicam o sujeito. E' que nao ha mais nada aqui, em ti!, que um sujeito. Sujeito sem significado ou identidade e principalmente sem individuo. Ha so uns binoculos para a peca de teatro que ora vemos em sujeito, ora vemos em binoculos. Ora somos actor ora somos espectador (binoculos de Pasolini). Uma intermitencia dual da consciencia. E isto tudo em Macau, ora especto a catedral, ora actuo o sofa. E sempre uma cena pre-existente nas memorias possiveis. Sempre uma virtualidade tornada actual. Sempre uma repeticao retornada.

Deixar um sofa e' dizer nunca e sempre. E' recordar o efemero e querer ficar. Porque o sofa efemero e' desde logo recordar. Recordar o cruzamento, seguir caminho. E' desde logo partida. Como recordar este amanha? E' que este sofa catedral vai estar sempre aqui para mim. A tal peca mundo vai sempre estar aqui para nos, uma vida-mundo sempre pronta a ser espreitada ou actuada.

Macau - Musica

As ruinas de Sao Paulo sao so' fachada e, por isso, o ícone turistico de Macau (para alem dos casinos) agrada-me imenso. E' como um templo romano de Palmyra na Siria mas e' so' uma catedral. Como se ali víssemos o cristianismo daqui a 1000 anos. Ruinas e fachadas como historia para contar. Sento-me nas escadas e vejo os turistas fotografarem.


O Noel veste de preto e tem uns 50 anos. Passa e pergunta olhando a guitarra se eu toco na rua. A conversa vai pela musica em diante e passados uns minutos ele diz: "esperas por mim 5 minutos e eu vou ali buscar o meu violino". Entretanto ja me tinha ensinado uns acordes e ritmos de jazz manouche (gipsy jazz).


Enquanto pratico, vem o Noel, ao fundo, frances que vive no Cambodja. Diz que quer desenvolver um projecto de alimentacao dos pobres, como uma carrinha de comida que passa pela cidade e alimenta quem quiser. Mas do que ele fala e' de amor. A cada minuto para, sorri e diz a cada uma das mulheres bonitas que passam: "Ola, como te chamas?". Ele e' simpatico e autentico, o amor como efemeridade autentica. Elas adoram-no, e o violino esta todo cravado de mensagens de amor e amizade.


A chuva cai ainda leve e recolhemos a uns degraus cobertos. Os acordes de jazz sao agora acompanhados de improvisacoes de violino. "Eu ja toquei com japoneses, koreanos, mongois, chineses, cambodjianos. As vezes toco so notas simples, como com aquele canto gregoriano mongol em que cantam como se fossem um didgeridou.".


Entretanto ha ja uma nota de 10 patacas aos meus pes e a caixa do violino passa para a nossa frente. E mais 10 hong kong dolares. Tocamos jazz manouche mas tambem as minhas musicas classicas com improviso de violino por cima, recuerdos de alhambra com violino! Mas o ponto alto foi o Libertango, piazzolla onde chegaram mais 20 hong kong dolares (2 euros) e um policia a dizer: "Mr., here you can play but you can't buy". Recolhemos o dinheiro e passados uns tempos os instrumentos. Ah, quando cairam os 20 hong kong dolares (que eu nao vi quem deixou) eu e' que estava a tocar violino como quem toca cello ao som de uns acordes de jazz manouche do Noel!


A terceira forma do capital: 22 anos de papa paga tudo, 8 anos de software paga tudo, e aos 30 anos, uma nova forma de rendimento. E' verdade, nunca tinha ganho dinheiro a fazer seja o que for que nao software (se alguem se lembrar de algum biscate que eu tenha feito que me avise, eu nao me lembro). Hoje uma nova fonte de rendimento, e que bom que e', a musica! O Noel fala-me de comer musica! A musica tornada em prego em pao e pastel de nata!

Macau - Chegada

Entrei em pe a pe por Macau a dentro e la havia uma praca onde se jogava aquele jogo chines. A praca era talvez a Praca da Mouraria. "Mas afinal alguem aqui fala portugues?" perguntei eu a um e a outro velhote que la se sentava. Eram uns 30 e o que me disseram foi "no, no, no" e apontaram para o centro: "Oh meu filho, vai la para o centro pode ser que tenhas sorte." dito com gestos.

A Rua da Longevidade cruza com a Avenida da Alegria e a Praca da Saude nao e' longe! Ao ler os nomes das ruas e lojas em portugues sorria eu muito! E uma chuva miudinha (ou seria morrinha?) alegrou os 3kms da fronteira ao centro. As casas coloniais amarelo pastel sao fundacoes e museus. Sao poucas. E ha muitos predios, uns grandes e feios mas a maioria baixinho-escuros e ate engracados. As ruas tem arvores e a calcada portuguesa esta por todo o lado. Ah Macau de chuva morrinha! Ao cruzar a avenida Venceslau de Morais comeca ja o Pessanha a ecoar por mim a dentro, eu caindo por Macau a baixo numa chuva morrente:

ÁGUA MORRENTE

Il pleure dans mon coeur
Comme Il pleut sur la ville.
                        Verlaine

Meus olhos apagados,
Vede a água cair.
Das beiras dos telhados,
Cair, sempre cair.

Das beiras dos telhados,
Cair, quase morrer...
Meus olhos apagados,
E cansados de ver.

Meus olhos, afogai-vos
Na vã tristeza ambiente.
Caí e derramai-vos
Com a água morrente.
                        (Clepsydra, 1920)

A praca central e' o Largo do Senado, calcada portuguesa e uma serie de edificios coloniais pintados de branco ou amarelo torrado. A rua que passa ai e' de asfalto, e' estreita e ao cruza-la parece-me que estou na Praca de Camoes e o bairro alto e' ali ao lado. Umas ruas estreitas cheias de lojas de souvenirs, roupa, comida e joias levam-me as ruinas da catedral de Sao Paulo. Sento-me. Da catedral resta a fachada, a imagem de marca de Macau. Muita gente de olhos rasgados passa sorridente, o portugues vive so nos letreiros das ruas e lojas, as palavras aéreas sao em Chines.

Yangshuo

Em Kunming vendi a bicicleta ao Alex e no dia seguinte, depois de lhe dizer Adeus, entrei numa loja de musica. Ainda experimentei o violino e a viola chinesa mas a escolha foi uma Martinez made in China. Uma guitarra de nivel baixo medio, nao muito ma, uma guitarra que em Portugal custaria uns 200eur, na China custou 90eur. De Kunming rumei para Este...

Em Guilin vejo mais uma cidade de tamanho medio do Sul da China, venho preparado para cidades horriveis e, no inicio pelo menos, ate vejo cidades engracadas. Templos, montanhas lindas em volta, o rio e gente simpatica! Sim, as pessoas riem-se para mim e dizem Hello!

Uma hora a sul, Yangshuo e' uma aldeia turistica com uma paisagem inimaginavel em volta. No centro imperam os restaurantes, hoteis, hostels, bares, discotecas, lojas de souvenirs, taxistas e, claro, turistas como nao tinha visto na China ate ali. No restaurante que escolhi passa o karaoke ambulante: um sujeito velhote com uma coluna, entrega, com o micro portatil, os papeis com as letras ao cantor, a musica comeca a sair daquela coluna portatil em grandes volumes, mas o espectaculo so comeca quando o cantor bebado comeca os seus gemidos euforicos, como variacoes sobre o original chines que eu nunca ouvi e, por cima, para dramatizar, o homem do karaoke toca flauta chinesa. Um melodrama chines em desafinos! Literalmente incrivel...

Mas o que interessa em Yanhgshuo, nao sao estas horas que la passei, sao antes as montanhas, os rios, os bufalos, os campos de arroz e a pousada que la encontrei no meio. A 5kms de Yangshuo gere um casal holandes uma velha quinta restaurada de telhas e paredes simples com paredes pintadas de laranja leve ou azul claro. O dormitorio de quatro camas e' so' para mim e tem tecto de madeira. Num dos patios da quinta ha la uma arvore alta e larga com folhas finas, a Giggling Tree (nome da pousada) e dali vemos os picos verdes e os campos de arroz com bufalos e gente simples com chapeus de bamboo em cone largo. A comida que ali servem vai das pizzas ao applestrudle passando pelos noddles, tudo delicioso! Assim passei 3 dias de grande produtividade, para alem do passeio de bicicleta pelas redondezas que estendeu a fantastica vista do patio, foram algumas paginas escritas (projecto de escrita que apresentarei mais ah frente) e muitas lidas (100 paginas de Deleuze equivalem a 1000 de Balzac).

Entretanto o cabelo e a barba (de 3 meses!!!) desapareceram e as unhas cresceram e ficaram fortes: o gerente oferece-me cafe de borla pelos acordes e o convidado oferecesse para cantar o fado! A paz infelizmente e' interrompida pela implaneada partida, a pousada ficou cheia e eu nao tinha reservado mais dias... Para Yangshuo fui a pe, 5kms pelo verde a cantar bem alto! Cada dia de guitarra, cada dia de mais cantoria: a minha voz pelo verde, ouvidos de bufalo e de chines nao desafinam como os outros ouvidos.

Esta era a China que eu queria ver! Talvez o sitio mais "bonito" do mundo, ou talvez tenha sido so eu, por dentro, ou a minha voz, que dentro, deixou a harmonia verde entrar e vibrar.

A magia de Yangshuo em fotos:
http://www.thecherryblossomgirl.com/yangshuo/10863/

20 May 2010

Zizek

I never had the time to follow Zizek, the popular philosopher, but today I got him talking about Deleuze. He is not as interesting as a master but, well, it's a journal and he's really funny! It may also interest you :-)

17 May 2010

(ha) devir Macau





Ainda temos umas paisagens brutais para ver na China, mas ja temos Macau bem perto e Pessanha em vista (esquerda e centro). E ao longe ve-se ja Niponismos e Venceslaus (direita).


VIOLA CHINESA(A Wenceslau de Moraes)
[Camilo Pessanha]

Ao longo da viola morosa
Vai adormecendo a parlenda
Sem que amadornado eu atenda
A lenga-lenga fastidiosa.

Sem que o meu coração se prenda,
Enquanto nasal, minuciosa,
Ao longo da viola morosa,
Vai adormecendo a parlenda.

Mas que cicatriz melindrosa
Há nele que essa viola ofenda
E faz que as asitas distenda
Numa agitação dolorosa?

Ao longo da viola, morosa...



E ha a linha de fuga do poeta atraves do devir musico. Em 1874, Paul Verlaine (autor de cabeceira de Pessanha) publica «Romance sans paroles» onde escreve “de la musique avant toute chose”!.


E depois a colonia Portuguesa e uma musica que faz lembrar os cinco do oriente de Timor. Mas que nao e', e' Macau:


16 May 2010

A linha de fuga, botanica e magalhaes em Kunming

Kunming e' a cidade mais segura da China. 5 milhões de habitantes partilham um excelente clima e o ar citadino menos poluído da China. E' uma cidade com ruas agradáveis e um parque em volta da universidade. E' uma cidade jovem de gente simpática.

Em Kunming vendo a minha bicicleta, numa loja oferecem-me 350yuan (55usd), exactamente metade do preco de compra e fico todo contente. "Volto amanha!". Vou ainda a outra loja onde encontro o Alex que tinha ido buscar a sua bicicleta de uma reparação. Ele vê a minha bicicleta e diz "It's a great bike". Acabo por lhe vender a bicicleta pelos 55 usd. Vamos ate casa dele para deixar a bike mas ele diz que quer ir dar uma volta de bicicleta, e assim fomos, para oeste de Kunming.

O passeio por fora da cidade em volta do grande lago a sul da cidade deveria ser bonito mas acabamos em estradas cheias de camiões e viadutos. Chegamos ao lago num pequeno bairro cheio de gente e coisas. As casas estão todas marcadas com o caracter chines que Alex identifica como significando: "demolish!". Um bairro para demolir. O preço do desenvolvimento!

Num restaurante do bairro comemos amendoins fritos e bebemos cerveja e chá. Temos a companhia de chineses. Alex e' fluente em Mandarim e tem portanto um acesso a' China bem diferente do meu. O muçulmano que se senta na nossa mesa e' bem chinês, mas muçulmano e diz que a minha barba e' estranha mas gosta de mim: "gaoxing renshi ni!". E diz a certa altura: "podemos ser amigos, não precisamos de fazer negocio para ser amigos", muito chinês!

Alex e' um jovem etnobotanico que estuda as implicacoes sócio-culturais do cultivo e da recolha selvagem de plantas raras no Yunan e e' um curioso dos cogumelos selvagens. Há mais diversidade de cogumelos selvagens no Yunan que no resto do mundo todo junto.

Com Alex falo de filosofia e a sua curiosidade infinita põem-me a falar durante horas sobre linhas de fuga, esquizofrenia, filosofia da diferenca, identidade, rizomas, corpos sem orgaos, subjectividade, individuacao e as implicacoes praticas dessas ideias: o ascetismo pela aceitacao do mundo tal como e' e respectiva desutilizacao dos esquemas morais standard, e o anti-ascetismo atraves do culto do devir, da minoria e do Outro. Ele e' tao inteligente que me ajuda a compreender tudo o que digo. Ele e' tao curioso que me ajuda a reencontrar a minha curiosidade um pouco perdida nestes meses de viagem. Um jovem!

Acabamos no centro de Kunming, a' meia-noite, a comer Hot Pot de peixe em sopa verde, uma espécie de fondue chines em que se colocam as coisas cruas dentro de um pote com uma sopa muito verde a ferver. O peixe foi tirado do aquário a' mao e partido em pedaços finíssimos (algo entre sashimi e carpacio). A acompanhar: tofu, sangue de pato, cogumelos, couves e batatas. Tudo dentro do Hot Pot com molhos picantes para aquecer ainda mais as coisas.

Falamos de Europa e America, ele quer viver na Europa, eu quero viver na America. Ele pergunta-me Portugal e diz algumas palavras portuguesas. Falo-lhe de Fado e poesia, de Pessoa como sempre falo quando falo de Portugal. Mas desta vez uma novidade! O mais notável Português não e' o Vasco da Gama, nem o Pessoa (e muito menos o Camões). O mais notável Português e' Magalhães: o maior de todos os viajantes e' Português.

E eu ainda com o mundo por circundar!


14 May 2010

JianShui - YuanYang

Depois de 3 dias sem bicicleta parto para a etapa final desta pequena experiencia em bicicleta. O dia comecou duro com 10kms a subir e depois um sobe e desce confortável. O que me valeu no inicio foi um tractor muito lento a que me agarrei e la fui puxado montanha a cima durante 4kms. Os chineses nao sao tao abertos como no Laos. Mesmo as criancas, aqui ja nao correm atras de mim ou gritam "HELLO!". Algumas sim, mas a maioria das pessoas por quem passo olha com desconfianca e so depois do meu sorriso se riem tambem e acenam. Mas ha sempre gente bem disposta, aqui falo da generalidade.

Depois da subida inicial, foram 50kms a descer sem parar com paisagens incriveis! Numa pequena aldeia almocei com gente sorridente e que me dizia em gestos a cada segundo: e's muito grande, olha que grande que ele e'!

Depois da grande descida, a barragem de Jianshui iniciava uma subida de 25kms montanha acima! Eram 4 e meia da tarde e eu nao sabia a que horas a luz acabava (erro de principiante). Passadas 2 horas, as 6 e meia, tinha feito apenas 14kms, a media na subida era de 7km/h! A paisagem era cada vez melhor mas faltavam ainda 11kms para YuanYang. As pilhas da lanterna tinham acabado no dia anterior a ler no autocarro e, como o seu estava nublado, temia que as 7 da tarde ficasse sem luz. Para tornar tudo melhor, passei uns 200metros de estrada que nao eram estrada, eram lama! Uma festa! E depois, a chuva ligeira. Lama, agua, 94kms nas pernas, a luz do dia a acabar e uma subida brutal pela frente! Comecei a sondar o pouco transito que passava, mas para cima so iam carros. Do nada, aos 95kms, passa uma pequena carrinha que instintivamente aceno para parar. A bicicleta cheia de lama em cima dos bancos, um condutor nao muito sorridente mas prestável leva-me montanha acima nos últimos 10kms de rampa. Assim cheguei a YuanYang, uma pequena cidade de montanha horrível mas com varandas para uma paisagem inimaginável: os arrozais nos socalcos.

Ossos do Oficio: viajante sofre

Viajar e' muito bonito e toda a gente gosta muito. Mas não e' assim Tao simples.
Uma caricatura PARA RIR, mas com factos reais (o pais aonde me aconteceu no final de cada entrada):
(sono) - dormir em quartos com animais; a juntar aos lagartos, baratas, formigas, escaravelhos e os omnipresentes mosquitos, na china encontrei um novo elemento para a lista: gafanhotos (China, etc, etc)
(sono) - dormir em quartos que não são limpos há meses, incluindo os lencois da cama que são trocados "de vez em quando" (Laos, etc, etc)
(sono) - dormir em viagens de autocarro pela noite dentro que passam em estradas cheias de buracos, estão cheios de gente, e cheios de fumadores (Índia, China).
(sono) - acordar as 2, 4 e 5 da manha com o gajo ao teu lado no dormitório a ressonar que nem um porco (em todo o lado)
(sono) - acordar as 2, 4 e 5 da manha com o galo a cantar mesmo ali ao lado da janela do teu quarto (Laos)
(comunicação) - entrar num restaurante em que não há menu e ninguém fala palavra de inglês (Laos, China)
(comunicacao) - entrar numa loja em que não encontras o artigo nem fazes ideia como descreve-lo (na china fui corrido de um cabeleireiro, como não falam inglês não gostam de receber estrangeiros, dizem: "tenta ali o do lado!") (China, etc, etc)
(transportes) - chegar a uma cidade as oito da manha, depois de 14 horas enfiado num autocarro sem ter dormido quase nada, e não saberes sequer onde estas, se e', ao menos, a cidade a que querias chegar! (Colômbia, China)
(transportes) - apanhares um autocarro de largas horas e quando chegas ao destino vez que apanhaste o autocarro errado (Peru)
(transportes) - passar horas a fio sem espaço para as pernas dentro de um autocarro e com as colunas a bombar uma musica qualquer que te rebenta os tímpanos (na América do sul era comum fazer viagens de autocarro com tampões nos ouvidos) (Venezuela)
(transportes) - apanhares um autocarro que demorava 4 horas e passado 8 horas o motorista ainda te esta a dizer "estamos quase a chegar!" (Colômbia)
(dinheiro) - pagar, em 80% das ocasiões, 80% mais do que os locais pagam pelo mesmo serviço (todo o lado especialmente Médio Oriente)
(dinheiro) - ter de marralhar ate o preço do pequeno almoço! (especialmente Médio Oriente)
(dinheiro) - estas numa das atraccoes turisticas mais incríveis que já viste e, de Tao deslumbrado que estas com a paisagem, esqueces-te do bloco de notas algures no meio da montanha; bloco de notas que por acaso servia de carteira backup e tinha 100eur (Jordan)
(comida) - no restaurante, pedir um prato desconhecido que achas que vai ser o destaque gastronómico da viagem e passados 10 minutos chegas ah conclusão que nem sequer o consegues comer de Tao nojento que e' (todo o lado especialmente Sudoeste Asiático e Índia)
(simpatia) - passar o dia a lidar com pessoas que preferiam que tu nunca tivesses aparecido, só querem que lhes pagues e não chateies (todo o lado)
(policia) - ter um policia de fronteira que não te devolve o passaporte e só te diz com gestos, "sai daqui!" (fronteira Laos / China)
(policia) - ter de subornar a policia porque comeste o crime de estar no sitio errado a' hora errada (Laos)
(policia) - ter de fingir que não falas inglês ou outra língua (dizer só "não entendo o que estas a dizer, pa'" em português) só para que o policia que te apanhou em excesso de velocidade te deixe seguir caminho (Roménia)
(policia) - ter de pagar para cruzar uma aldeia a pe' ou bicicleta (Laos e China)
(policia) - na fronteira, um senhor muito simpático que veste calcas de ganga aponta-te uma metralhadora e diz a sorrir, pousa ali a tua mochila, faxavor! (Israel)
(simpatia) - ter de dizer "não, obrigado" 100 vezes por dia aos comerciantes das lojas por onde tentas dar um passeio descontraído (Egipto e Índia)
(clima) - estar numa praia paraíso com paisagem incrível e teres uma tempestade que te faz ficar no quarto (Equador)
(segurança) - apanhares um autocarro e quando chegas ao destino veres que a mochila não tem o mesmo conteúdo que na partida (Indonésia)
(segurança) - voltares ao quarto e descobrires que um dos teus colegas de quarto te roubou uns chinelos ou mesmo uns dólares da carteira (Peru e Argentina)
(vida nocturna) - chegas a umas das maiores discotecas do mundo onde e' noite de festa, pagas 30eur para entrar e quando entras descobres que e' uma festa gay com 1000 homens musculados (muitos sem tshirt) a dançarem uns com os outros (Israel)
(saúde) - estar no paraíso, mas com diarreia (Índia, Peru, Brasil, Tailândia, Timor, etc, etc).
(saúde) - voltar ao teu pais e passares 4 meses a recuperar o teu estômago de tanta "aventura" gastronómica (Portugal)
Acho que me estou a esquecer de muitos e melhores. Fica uma amostra :-)
Em vão tentei encontrar outros blogs com este tipo de factos, estou a pensar num muito bom que deve ser muito comum para ingleses na Tailândia: engatar uma miúda de sonho na noite de bangkok e passado umas horas descobrir da pior maneira que e' um ladyboy. LoL

Mohan, JingHong, JianShui

Mohan e' a primeira cidade chinesa depois da fronteira com o Laos. Para quem vem do Laos e' um choque. A cidade e' pequena, uns poucos milhares de habitantes, mas os edifícios sao de cimento em comparacao com as cabanas do Laos, te'm ate varios andares! Lojas de tudo, alguns restaurantes, muitos cabeleireiros, um banco, uma avenida muito larga e arranjada e ja os chineses na sua diversidade: uns simpatiquissimos riem-se e vem falar comigo e ensinar-me mais um caracter chines, outros falam comigo simpaticos so se lhes perguntar alguma coisa e depois os que nem sequer falam comigo ou respondem se lhes perguntar alguma coisa. Cada chines que abordo e' portanto (e depois de uma semana na chines isto mantem-se por todo o lado) uma surpresa: ora nem te respondem e dizem para te afastares ora riem-se e ajudam-te em tudo o que quiseres. Os mais novos tendem a ser mais simpaticos.

No Laos, de Vientiane a' fronteira sao 680kms, acabei por fazer exactamente metade de bicicleta (340kms) e metade de autocarro. De Mohan a Mengla foram 40kms faceis por uma autoestrada de alta qualidade e com paisagem agradavel mas monotona. De mengla a JingHong segui de autocarro.

JingHong fica 150kms a norte da fronteira e e' a capital da parte sul do Yunnan. E' um misto entre cidade cosmopolita e uma vila no meio da selva. As estatuas sao de elefantes e ha por ali elefantes selvagens a uns poucos kilometros. Ha tambem o Mekong ainda que passa. Ha dezenas de lojas de jade e de esculturas em madeira espalhadas pela cidade. As avenidas sao largas e com palmeiras.

Contava em Portugal que gosto de viajar pela diferenca e essa diferenca pode ser vista em muitas e pequenas coisas, o exemplo que mais recorrentemente usava em Portugal era a pastelaria. Uma pastelaria em Portugal e' aborrecida para o portugues, ja conhecemos o Mil Folhas, o Napoleao, as Glorias, o Bolo de Arroz, etc. O cerebro nao para para pensar nisso. E, se quisermos buscar a diferenca temos de insistir, que bolo e' aquele? Temos de buscar activamente a diferenca. Quando viajamos e' o contrario, e' a diferenca que nos vem bater a' porta. Na China nao sao as pastelarias que diferem (ainda nao encontrei doces que merecessem memorias fortes, ao contrario do medio oriente onde comi doces excelentes), sao, por exemplo, os bebidas de garrafa: chas, refrigerantes e iogurtes. Os frigorificos estao cheios de garrafas diferentes com rotulos chineses e a diversidade e' gigante. Um frigorifico de uma loja de conveniencia vulgar tem sempre umas 30 garrafas diferentes: ora sao chas gelados de mil tipos, chas com gas, sumos de frutos estranhos (um e' o tamarindo mas ha outros melhores e que nao conheco), iogurte de sabe-se la o que, refrigerante com sabor a caramelo, enfim, incontaveis variedades: a diferenca.

Em JingHong caminho pelas ruas em busca de um restaurante. Numa esquina, uma musica tranquila sai de umas colunas no meio de uma praça. E' um bailarico! 20 ou 30 pares de meia idade dancam uma valsa de sonoridade oriental. Depois outra musica um pouco mais animada e sempre toda a gente a dancar ao ar livre. E' Domingo e sao 10 da noite. Sento-me e observo: que paz!

No dia seguinte sigo de autocarro para JianShui. As 8 da manha chego e nao sei onde estou, felizmente e' JianShui, mas ainda antes de verificar que estou no sitio certo vejo, ah porta de uma loja, 8 senhoras de idade a dancar no passeio, como que ginastica matinal no meio da rua. A danca aqui e' individual e consiste em passos repetidos e movimentos suaves com os bracos para cima e para os lados. A musica calma, oriental mas moderna: que paz!

JianShui tem um dos maiores templos de Confucio da China e ali respiram as arvores, a tranquilidade e um lago bem grande com nenúfares! Agora que ja li o Tao Te Ching do ,Taoismo vou ter de ler os Analectos do Confucionismo. O Taoismo e o Confucionismo sao as duas grandes escolas filosoficas de origem Chinesa. Se juntarmos ao Budismo vindo da India temos a grande triade da cultura filosofica/religiosa chinesa.

Como de costume as tradicoes sao baseadas em escrituras e autores de escrituras. Se no Budismo temos o Buda "santo", no Taoismo e no Confucionismo temos LaoTzu e o KongTzu que mais do que santos, sao sabios filosofos. O Taoismo e' o mais antigo, baseia-se no Tao Te Ching e outros livros classicos escritos por LaoTzu no sec VI aC (no mesmo sentido em que Homero e' o autor classico grego mas ninguem realmente sabe quem e' ou se realmente existiu). Tres seculos mais tarde Confucio (Kong Tzu) e' um seguidor do Taoismo que reinventa a sua filosofia e escreve, entre outros livros, os Analectos. No Taoismo, a figura central e' o Tao. O Tao e' a eternidade, e' o que vai por debaixo das coisas existentes e das coisas inexistentes. O Tao e' a Entidade, ou, espinossisticamente, a substancia. A filosofia de Confucio e' uma filosofia mais politica, mais virada para o homem e menos para a natureza.

Entre as arvores do templo encontro ja uma outra dualidade chinesa: a luta pelo poder, honra e especialmente sucesso referenciadas em Confucio e por outro lado a tranquilidade das arvores do templo e a meditacao referenciada no Taoismo. Um sistema de forcas em equilibrio.

Ha tambem em JianShui muitos outros templos e muitos edificios tradicionais chineses. E' uma cidade pequena muito agradavel. E aqui ouco musica tradicional por todo o lado, pequenos grupos de pessoas de idade com os seus instrumentos chineses que, nos alpendres da casas, tocam e cantam musicas que me encantam. Ha tambem, num desses edificios tradicionais, um espectaculo de variedades com dancas e cantos da regiao, muito bizarro: se usarmos a opera chinesa como referencia, este espectaculo seria uma "revista a' chinesa". Ha tambem um restaurante onde como mais uma deliciosa especialidade: galinha agri-doce e sopa de tomate e ovo. No restaurante vem sempre no inicio cha para a mesa.

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Chinese TV and News

Ligo a televisão e vejo, pela noite dentro, Opera Chinesa e um recital para orquestra e Urho (um instrumento tradicional chinês).
Os "diários do povo e da china" contam-nos que:
  • o presidente chinês hu jintao "calls for correct view of history", uma visão correcta da historia! (link)
  • alguma propaganda comunista chines sobre politicas sociais (link)
  • os prós da expo 2010 shangai (que e' como quem diz publicidade a' expo) (link)
  • angola eh o principal fornecedor de petróleo para a china. CEO da Sonangola vai a' china (link)
  • china faz negócios com europa, sarkozy e Durão Barroso na china (link)
  • na Tailândia, transmiss de 20 anos, operar a "parte de cima do corpo" chegou para vencer (link)

Viajar de bicicleta e comer (quoting http://www.thehungrycyclist.com/)

O Hungry Cyclist e' inglês e viaja de bicicleta pelo mundo a' procura da melhor comida.
"I still dream about the succulent salsa soaked fish tacos I enjoyed while cycling the pacific coast of Mexico; the home-made humus served with warm pitta bread in the Arab villages of Israel was biblically good and the fresh ceviche of the Peruvian Amazon remains to this day a firm favorite."

Primeiro começa em grande com um favorito igual ao meu: ceviche do Peru e' a melhor coisa que alguma vez provei em viagem. E de facto, o humus em azeite com pão quente e' um bom segundo! Tenho de ir ao México provar os tacos de peixe!

E depois o viajar de bicicleta:
"‘The world is getting smaller’ is a phrase often touted as new generations embrace developments in communication and transport across a planet occupied by a truly global population. But from a saddle the world is still as big as it ever was. A mile is still a mile. An hour is still an hour. The hills are still as steep and hard to get up, and just as much fun to come down. The rain is as wet as it ever was and the sun just as energy sapping. The world is no less fascinating today than it was yesterday, but as life moves faster and the devil is in the detail and I am yet to find a mode of transport that exposes me to these details so successfully as the bicycle..."

12 May 2010

Yuan Yang, Yunnan

Tenho muito por escrever destes dias na China mas aqui vai um update.
Estou em Yuan Yang com vista para a incrivel paisagem repleta de rice terraces (quem ajuda na traducao? sao arrozais mas na montanha, como as vinhas no douro).
Vamos ver como se porta o tempo e a minha maquina fotografica. Alguem ja tirou esta foto:


E estas:
http://farm2.static.flickr.com/1210/788585069_c9c0994044.jpg
http://www.yndental.com/yuanyang6.jpg
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10 May 2010

China buys bankrupt US

O Hummer e' uma das grandes imagens norte americanas. Os Hummers eram produzidos pela General Motors (GM). A GM faliu e, curiosamente, e' uma empresa chinesa que tenta comprar a parte dos Hummers.

Uma falencia que eu gostava de ver, talvez so em final de carreira, era uma tal de Microsoft, ou talvez uma tal de Google. E alguem iria comprar barato essas pobres marcas de volta, alguem. Vamos esperar que seja a China!

Chinofobia

Viajar e' desconstruir a xenofobia do sedentario. E', como tenho dito, encontrar o Outro sem diferenca. E' perder o medo do Outro. Fobia e' medo, antes de ser discriminacao e exclusao.

Se no Medio Oriente a arabofobia perdeu sentido, aqui na China, a Chinofobia global quase que assusta...
Eles tem olhos e pernas e comem e dormem e amam os filhos e os avos. Agora ate tem carros e vestem tshirts, MAS, antes de mais, sao chineses. E insiste-se no cuspir para o chao ou na carne de cao, ou nos direitos humanos, ou seja que diferenca for. Qualquer diferenca e' razao para a Chinofobia.

Ha varios aspectos que fazem encontrar o Chines, "devenir" chines, que vou tentar descrever ao longo da viagem. O primeiro momento aconteceu ontem quando, apos umas semanas a comer de pauzinhos, me apercebi que e' muito mais pratico comer de pauzinhos do que com talheres ocidentais. Porque raio e' que eles (voces) nao partem a comida na cozinha? (para entender isto talvez seja bom exercicio imaginarem-se, se e' que ja nao experimentaram como eu, comer sushi de faca e garfo).

Safar-me

"the word for journey or travel is the same ("Safar") in Arabic, Farsi, Urdu, Hindi and Swahili"

safar
. Tirar para fora; extrair.
. Mar. Pôr a navegar (um navio encalhado).
. Apagar.

Assim me tiro, me apago, me ponho a navegar. Assim me safo. Assim me safaro. Assim viajo. Assim faco a minha jornada. Assim travelo, assim me travelo. Um grande travelanço que e' um lanço atravelado. E o velho esquema do "izamento em azamentos": assafarizo-me em atravelamentos.

08 May 2010

8/5 CHINA

Em Namo, dois dias depois de ter falado com o ultimo falang (estrangeiro), encontrei um ciclista esloveno. Vai a caminho dos himalaias chineses. Fez nos anos 90 uma viagem da Tierra del Fuego ate aos Estados Unidos, sempre de bicicleta. Falei-lhe do sonho de fazer a Pamir Highway no Tajikistao, ao que ele responde, "sim, ja la estive". Depois muitas outras historias. A melhor e' que esteve preso 4 dias no Irao tambem algures nos anos 90. Um dos dias numa solitaria! O Renato faz mais de 100kms por dia e tem equipamento para sobreviver a' neve: tenda, saco cama, roupa quente, fogao e uma bicicleta que pesa mais de 40kgs. Um futuro para mim!

Depois de duas etapas curtas de 50kms e 60kms la chegou a grande fronteira. Aos poucos os pequenos apontamentos chineses do norte do Laos tornaram-se grandes. Em Boten, a cidade de fronteira, ainda no Laos, ja so ha chineses e Ni Haos (Ni Hao significa Ola em Chines).

China

A China e' uma festa! Caracteres por desvendar em todos os cantos.
Finalmente um restaurante chines sem ser de imitacao! Tal como algumas vezes no norte do Laos, nao ha menu nem eles falam palavra de ingles. A solucao e' uma excursao pela cozinha e por todos os ingredientes. Basta apontar e aprender novas palavras! Carne de vaca com pimentos (tipo padron), couve cozida, sopa de tomate com ovo, arroz branco (quase sticky) e um bom cha gelado chines: que maravilha!!!

06 May 2010

Pessanha

E na China Macau ha o Pessanha! Esse professor de "Filosofia Elementar" que levava a sua Clepsidra na memoria e a dava aos amigos serao adentro! E todas as noites, uma nova clepsidra, mudada de ontem aqui e ali. E as virgulas? Onde vao as virgulas neste ar que te sopro?

http://paginas.fe.up.pt/~mei04021/poetry/pessanha.php

5/6 Luang Prabang - China

Um update, escrito on the line...

De Luang Prabang a Pak Ou foram 40kms. 10kms em terra batida. Muito bom pedalar assim! Depois de 2 horas em busca de guesthouse na zona, "dont have" vezes 40. Muita gente a oferecer a sua casa ou diria, cabana! Acabei a dormir numa esplanada de restaurante com vista para a juncao do Nam Kong (Mekong) com o Nam Ou para as grutas Pak Ou, a grande atracção turística da zona com centenas de budas.
Indescritível! Acordei as 6 da manha com o Mekong! Dai foram 90kms para Pak Mong, pedalar das 7am as 5pm, bem devagar para nao ferir os musculos. E mais um dia rural cheio de sabai-dees...

O encontro com a natureza, o rural e o exercício físico violentíssimo tem efeito rapidíssimo. Uns poucos dias a pedalar e ja nao sou o mesmo. Violentamente relaxado e a pensar no futuro.

O que sera do futuro, o que será da China e depois? Ah, portas abertas! Soubesse eu abrir portas a serio. Tudo e' possivel em mim. Deixo-me, em exaustoes, sonhar, deixar ver que linha constroi este cerebro. Que risco posso fazer eu neste mundo? Que posso eu escrever? Que vou eu inscrever?
E havia sempre aquela ideia de que temos de sonhar 1000, planear 100, tentar 10, e quando fizermos 1, ah tanto que fizemos!!!
E ha tambem aquela frustração de nao ser grande coisa. Ah, fosse eu um grande genio de cortes vorazes! E assim embato nos meus limites (nem sequer vejo o mil). Mas vou acabar por fazer um ou dois... e, mais importante, vou caminhar ate la, vou tracar essa linha e' certo. E vou querer tracar a linha e todos esses multiplos componentes "do que se ve antes e do que fica depois do evento": o simples traco. Os multiplos componentes do simples traco. Ha muito mais do que um simples traco num simples traco, quer espacialmente, quer temporalmente. Como no Variacoes, por exemplo.

Voltando ah realidade, resumidamente, o Laos e' o fim do mundo! Pequenas aldeias e depois vilas que vivem do transito da estrada principal que vem da China. Uma mini cidade a 100kms da fronteira onde ja se ve muito chines. Suponho que o Laos seja parecido com o Myanmar. Um fim do mundo onde la vai chegando agora o desenvolvimento com traços chineses. Para que o desenvolvimento? Para desenvolver a praga? Este bicho homem, ah esta grande praga! Esta por todo lado! E o pior e' que vou ter de levar esta ideia ao extremo: ah chines amigo!!!

Amanha ou depois (faltam 100kms), a fronteira e CHINA!!! Yunnan! Yuan! Han Yu! E tudo o mais!

3/5 Luang Prabang

O rio Kong, Mekong, Nam Kong, tem mais de 4000kms. Nasce nos himalaias, no planalto Tibetano da provincia Chinesa do Qinghai (tching hai) ao norte do Tibete e cruza depois o Tibete e o Yunnan (outra provincia do sul da China). Na epoca das chuvas, o Mekong pode chegar aos 14kms de margem a margem! So depois de muita China chega o Mekong ao Laos. E' o Mekong que desenha, de norte a sul, a fronteira Este do Laos com a Tailandia entrando depois no Cambodja. E' no entanto no Vietnam, la' para os lados de Saigao, que o Mekong morre a's portas do Mar do Sul do China. O Mekong corta assim a IndoChina de norte a sul e e' naturalmente um simbolo basilar para a vida e cultura da regiao. E' o simbolo deste "entre a India e a China". Nome triste este, marcado de colonialismo. Sao escuros e budistas (India) e comem arroz e tem olhos um pouco rasgados (China) mas a sua identidade vai bem mais longe do que estes detalhes.

E' que em Luang Prabang, ja bem no norte do Laos, passa o Mekong. De aguas castanhas e barcos finos e longos de pouca madeira, este rio que corre sempre lento e largo deixa-se constantemente arranhar pela selva. Ao fim do dia, em zonas mais baixas, ha alguns pescadores de rede no centro do rio. Ha ao fundo umas cabanas enfiadas na selva, rio acima. Rio abaixo vai o continente inteiro. Rio abaixo vai o horizonte e o sol.

Para os mais cinefilos ha o Apocalipse Now, e' aqui que estou certamente, as Valquirias gritam bem alto mas nao atingem a forca do Mekong, os helicopetros e as aldeias em baixo. E sabemos que rio acima as coisas sao mais dificeis, ha vilas perdidas e loucuras. Mas aqui ha so um sol que teima em descer e uma esplanada com vista inesquecivel.

Em tempos de colonia Francesa, a viagem de barco a vapor de Paris ate' Saigao era mais rapida do que de Saigao ate' Luang Prabang. Luang Prabang e' um ponto importante dos tempos coloniais franceses. Em inicios do sec XX, imaginem-se os colonos franceses no meio da selva! As casas coloniais multiplicam-se entre as palmeiras. O estatuto de UNESCO World Heritage da cidade ajuda a manter as ruas limpinhas e organizadas, parece outro mundo.

E outro mundo e' mesmo o palacio do Rei de olhos rasgados mas que fala Frances certamente. Da sala do trono a' sala de leitura passando pelo quarto de dormir podemos, neste palacio transformado em museu, ver de perto a vida de um rei de uma colonia. Os presentes de todo o mundo incluem gravuras em seda vindas da China, gramofones americanos e pratos com gravuras em prata Indiana. Mais tarde, no teatro ao lado do palacio houve dancas tradicionais do Laos, com macacos e monstros, princesas e ladroes, xilofones e aquele toque inconfundivel da musica do Sudeste Asiatico. So comparavel as dancas balinesas da Indonesia. Neste palacio fiz uma viagem longa e viva. Com gramofones que tocam Pablo Casals (uma gravacao antiquissima de uma peca de schubert para violoncelo). Com livros de historia colonial. Com gravuras que contam historias. Com fotografias a preto e branco do rei e da rainha. Vivi de rei e de princesa. Fui rei ali dentro. Sou, depois disto, um pouco mais rei da indochina!

Houve ainda a dona do restaurante que se pos a contar a sua vida. Do amor aos negocios. Tem 40 empregados no seu restaurante, guesthouse e resort. Arrenda mais um terreno e outra loja. O namorado Frances nao lhe liga, o ex-marido americano, alcoolico que ja nao via ha 2 anos, suicidou-se ha umas semanas no norte do Laos. Uma chamada da embaixada americana conta ela! O ex-marido do Laos (sim, outro) roubou-lhe uma casa. E depois os dolares... uma longa e interessante historia de vida. Ah, os empregados do restaurante sao todos rapazes: "Do you know why? They used to be all girls, girls work much better, but my american husband used to fuck them all! So I started hiring man only". E isto e' so' um exemplo de historias mirabulantes com cheiro a Indochina.

Amanha parto de barco Mekong acima ate' a Pak Beng de onde sigo viagem (se as pernas ajudarem) para a fronteira com a China.

30/4 Vang Vieng

Depois de 155kms de paisagem campestre chego a Vang Vieng e surpresa! Foi como acordar de um sonho, a civilização estava ali no meio da minha ruralidade e cheia de estrangeiros.

Em Vang Vieng a paisagem e' exuberante, picos com formas lindas e o rio em baixo com pontes de madeira. As grutas de Vang Vieng impressionam. Uma especialmente. Depois de pedalar por uns prados com vista para a montanha, chego a um prado onde passa um rio e por baixo da ponte, o rio, mas o rio e' como uma piscina de agua azulada muito forte: a piscina natural mais bonita que ja vi.

Logo ao lado sobe-se uns degraus e entra-se num buraco na rocha, uma lanterna guia o caminho pelo escuro e pelas pedras da gruta adentro, nao ha iluminacao, nao ha bilheteira, ha so um buraco. E de repente, um espaco quase em forma de esfera formado por pedregulhos e estalactites estranhas: 30 metros de altura e 40 de largura e o que permite ver isto e' um buraco la em cima que deixa entrar alguma pouca luz. E a magia ja estaria la so com isso mas no centro, bem deitada, esta' uma estatua dourada do buda. E a magia ja estaria la so com isso mas no centro, bem deitado, estava eu sozinho ao lado do buda. Eu, o buda e uma gruta silenciosa de pouca luz.

Mas em Vang Vieng, no primeiro e segundo dia, o "cansaço" no gémeo esquerdo nao passava e senti entao o erro de ter começado a pedalar a valer de repente. Eu aguento tudo mas o corpo nao aguenta! Foram 155kms demasiados duros para fazer assim do nada, sem preparação física nenhuma. E assim, ao terceiro dia em Vang Vieng, rumei ate a' estacao de autocarros e la passaram 6 horas nas curvas ate Luang Prabang. A bicicleta no topo do autocarro talvez tenha feito a viagem, mas eu nao. De Vang Vieng ate Luang Prabang seriam 220kms de 3 ou 4 dias a pedalar por ruralidades. Que falhanço! Mas aqui em Luang Prabang ha ainda bicicleta, muita vontade e muito norte ate ah china! E ha massagens também que custam os olhos da cara! Uma hora sao 2,8eur!
(fotos roubadas)

1/5 Two month away / March and April Summary / Route and Money

Sobre o roteiro, foram 7+1 paises novos (UAE de passagem).

O Medio Oriente (Egipto, Jordania, "Palestina", Siria, Libano e Turquia) revelou-se uma surpresa gigante! Uma zona interessantissima para viajar. Aqui mais do que uma viagem ao interior fiz uma real viagem plena de mundo e gente, encontrei um novo estilo de viajante em mim.
Ficam um pouco de fora disto (mas nao totalmente): o Egipto, a sua historia e o seu (sobre)desenvolvido turismo; e a Turquia, achada Europeia. Sendo que o que realmente me interessou neste "Medio Oriente" foi o trio Siria, Libano e Palestina/Israel. E claro, ficou todo o resto do Medio Oriente por ver, um minimo cheiro nos UAE deixou ver que a fotografia nao esta completa: um inicio na Arabia Saudita e uma passagem a Oriente pelo Irao fecharia o mapa mais correctamente. Futuro!

Um aspecto importante que ficou por comentar no blog sobre o medio oriente foi "o muculmano", um problema simples: vai uma grande distancia entre o homem de turbante e bombas (visao ocidental) e o homem mais hospitaleiro que eu ja vi no mundo! Nem a simpatia Colombiana se lhe compara. Um muculmano e' para mim um amigo, alguem que quer sempre falar de perto contigo. Ser teu amigo mascarado no converter-te ao Islao mascarado no querer que sejas parte do grupo dele mascarado no querer que sejas seu amigo.

Depois ha ainda o pequeno Laos. Um salto demasiado grande entre o Medio Oriente e o sudeste Asiatico que me deixou quase arrependido de nao ter vindo para o sudeste asiatico por terra, pelo Irao pelo menos. O Laos foi tambem uma surpresa positiva. Um pais rural e bonito. Mas o melhor no Laos e' este devenir/become chines, cada kilometro que subo no mapa, mais as caras ficam brancas, mais os olhos ficam rasgados, mais o idioma que falam me parece o Chines, menos se ve o "Indo" desta Indochina.

Sobre o dinheiro, uma viagem muito longe do budget. Segui a linha do budget, mas sem pensar em dinheiro o que leva a que tenha cometido autênticos atentados carteiristicos. Esta viagem de 2 meses sem extras (portatil e bicicleta especialmente) teria ficado por cerca de 2500eur. Ficou por 3750eur. Ou por outras palavras: e assim se estouram 750contos! E para quem me conhece agarrado so posso dizer: mas que dinheiro bem gasto!

(os detalhes das datas e dinheiro em comentario)

04 May 2010

28/4 Vientiane - Vang Vieng

De visa chines na carteira e de bicicleta nova, la fui eu estrada fora. Para Luang Prabang eram 370 e tal kms. Seis dias a pedalar. Vang Vieng ficava a 155kms. No primeiro dia fiz 70kms planos ate uma vila e no dia seguinte parti para Vang Vieng em mais 85kms nao tao planos.
Ah, viajar de bicicleta! O proprio titulo do post ja diz o mais importante: deixa de ser o ponto (Bangkok ou Vientiane) o importante, passa a ser a linha (Vientiane ----- Vang Vieng), uma linha fisica para variar das linhas imaginarias de que tanto falo!

Nao so Vientiane e' como Dili como o Laos e' como Timor, muitas diferenças e' certo, mas no centro, aqueles cheiros, aquela gente, aquela terra avermelhada, o calor e o verde nas colinas. Pela estrada fora, durante os 155kms dos dois dias, a cada minuto uma cara nova, um grande sorriso e a omnipresenca do Sabai-dee!!! (ola na língua do Lao). Vi muitos campos de arroz e bufalos enlameados e bem ao lado deles recreios de escolas e criancas que ora correm atras de mim ora, se estao tambem em bicicleta, pedalam a meu lado.

A' noite uma guesthouse em que ninguem fala ingles, ha so uma estrada onde passa algum transito, um restaurante onde como sopa de noddles e arroz frito. E outra vez salada Laos (lap) com arroz colante (sticky rice). Ha um carro com uma familia (um marido, tres esposas, tres filhos) que pa'ra para beber cerveja e me oferece um copo, e' de Viantiane o simpatico senhor e deseja-me boa viagem ate a' China.

Se na saida de Vientiane via muitas construcoes, aos poucos as vilas começaram a ficar mais definidas, mais espaçadas nos kilometros e no final so de 10 ou 20 em 20 kilometros e' que se via uma vila no meio do verde. Gradualmetne, desde Vientiane, ia entranto pelo pais a dentro. Nos ultimos 50kms so pequenas vilas em que as construcoes sao de madeira e a' volta a selva ou os prados verdes ou os terrenos de cultivo e os sabai-dees.

Houve uma descida por uma vila, que a estrada e eu cruzamos, onde havia pouca gente... mas a sensacao, ah, a sensacao. Era a de voltar a uma infancia qualquer, a um campo qualquer, a uma ruralidade perdida! As casas de palha sao elevadas por estacas e, dentro da maioria nao ha divisoes, ha so gente e coisas. O que e' uma vida ou uma casa senao gente e coisas? E coisas simples estas, muito simples. As criancas nuas, ou quase, precisam so da agua para brincar e os pais, que precisam os pais? Que precisamos nos senao de comida, pessoas e uma cabana? E a comida vem da terra logo ali ao lado. E eu nem me movi ali, vi so aquela cor quente que me raspava na cara e quase me fechava os olhos...

E foi assim que encontrei a paz... e' sempre nos sitios mais recônditos que me encontro. Numa terriola do Laos, dois dias a pedalar pelo verde, um quarto vazio de paredes mal pintadas preenchido pela pior cama do mundo. Os detalhes do encontrar-me vao noutro post, daqueles que ninguem entende...

22/4 Vientiane

Em Vientiane, capital do Laos, espero pelo meu VISA chinês e preparo a viagem pelo norte do Laos ate a' China. Uma novidade: uma bicicleta.
O Laos e' um pais pobre do Sudeste Asiatico. Um pais que abriu as suas fronteiras aos turistas ha uns 20 anos. Um pais esquecido na ocupação Francesa. Um pais que aos poucos encontra o seu desenvolvimento e o seu turismo. Um pais verde...
Passo seis dias na mais vila de todas as capitais que conheço. Vientiane e' em muitos aspectos semelhante a Dili, em Timor. Nao ha grande transito, ha o mar sem praia, ha clima tropical, ha restaurantes para estrangeiros (falangs aqui, malais em Timor) e restaurantes para os locais, ha muitas embaixadas muito perto e nao ha prédios. Mas ha menos taxis e mais tuk tuks, ha menos jeeps da UN mas mais carros modernos. Ha aqui mais passeios do que em Dili. Ha muitos templos com budas. Mas em ambos, ha, acima de tudo, calor, humidade e subdesenvolvimento.
A bicicleta custou uns 100 dolares e depois foram mais 150 dolares em acessórios (luzes, capacete, luvas, cadeado, kit de reparação de furos, câmara de ar suplente, chaves de afinação, bomba, elásticos para prender a mochila, calces, óculos de sol, mapa, impermeável e impermeável para a mochila). Agora vai custar as pernas pedalar montanha acima ate a' China.