20 June 2010

Acreditar na Noite

Um dia e' uma vida; a entrada na noite, a morte. Tudo se fez claro naquele momento escuro em que tentei o suicídio. E por sorte,  num instante, entendi que não o devia fazer. E sempre aquela naturalidade com que todos aceitamos a morte diariamente.

Estava deitado numa cama de quarto escuro e corpo quase nu. Fechei os olhos e deixei de pensar no meu corpo, no onde ele estava e aos poucos fui perdendo consciência e entrando naquele espaço de ventos coloridos em que passam filmes mudos. Acreditei que as técnicas que aplicava resultavam ao ponto de quase morrer. O filme que passava chamava-se "a ascensão". Mas numa cena menos forte, ouvi o ruído de gente que festejava e entrei no vórtice de regresso. Há primeiro o ouvir o ruído, depois o entender o ruído, depois o entender que se entendeu o ruído, como quem se vê ao espelho, e depois o sentir e entender o corpo pousado na cama e o frio da janela de onde vem o ruído de gente que festeja. Salvaram-me a vida em festa!

Depois tentei outra vez adormecer e concentrei-me no peso que sentia nas sobrancelhas. O sono caia e já não senti o corpo. A zona dos ventos mudos apareceu mas houve uma ansiedade que me fez mover o olho. Havia ainda vida em mim. E porque queria eu dormir? Porque' o suicídio? Insónia e' vida! Levanto-me e vejo que me resta pouco tempo agora, talvez uma hora de vida. Todos dormem e eu devo dormir, a morte chegara moralmente portanto. O nervosismo da-me insónia, tempo de vida.

Acreditar na noite e' como acreditar na reincarnacao. E' acreditar num despertar. Porque acredito que ontem me deitei e adormeci? Porque acredito eu na minha memoria? Porque acredito eu que sou eu quem viveu meu passado? Acreditar na memoria e' acreditar no tempo linear em que ela se constroi. (essa e' a tua grande doenca leitor! acreditares que ontem estiveste aqui e adormeceste? que provas tens?) E' preciso deixar de acreditar na memoria para entender o tempo. E' preciso deixar de acreditar que adormecemos ontem. E' talvez preciso deixar de acreditar, pelo menos, que fomos nos, os mesmos deste agora/aqui, que adormecemos ontem.

E por ai chegamos a' noite da morte. Adormecer e' morrer. E portanto, esquecer o presente imediato, estes últimos 5 minutos, e' morrer! Deixar que a cena mude, no filme, e' morrer. Como se fossemos o personagem que só vive na própria cena. Depois da cena, a morte. Ao adormecer morremos ali e, no dia seguinte, há apenas reincarnacao, já num outro tempo, de alguma coisa repetida de nos, mas outro nos, outro eu. Tentar adormecer em noite de insónia e' uma tentativa de suicídio. A morte deve ser natural!


Quatro perguntas para acreditar na noite


porque acreditas tu
que es tu
quem viveu teu passado?

19 June 2010

Uma semana de plástico - USA, Costa Oeste


Na fronteira dos States alguém me incomoda com uma entrevista. Querem saber onde vou, o que faço e, muito zangado, o pobre coitado, vendo o meu passaporte com foto de refugiado e quase completo de tanto carimbo, pergunta: "Why do you travel so much?".

19/6 Seattle
Em Seatle nasceram a Microsoft, a Boeing, a Starbucks e os Nirvana! Wow! Ao contrario de Chicago ou (I guess) Nova Iorque, este centro do mundo não tem nada de especial visualmente. No entanto ouve-se dizer numa esquina que o "Eddie Vedder lives next door, sometimes he plays on the balcony and we can hear him composing" (e' o vocalista dos Pearl Jam). E claro, estamos nos states, temos big cars, fake smiles, motels, diners, bandeiras, blues, burgers, wisky bars e muitas outras referencias dos filmes.

Vi em Seattle 3 ou 4 post its ou tshirts com o logo "Kill your TV", e' que americano vê 5 horas de televisão por dia. Ah, que grande democracia!

Quanto aos americanos... obesos!? 300 milhões de doentes mentais a tentar levar uma vida normal? Ou se calhar falei com demasiada gente da rua...

20/6 San Francisco
Em São Francisco fiz de turista e vi leões marinhos e parques agradáveis, mas...

22/6 Los Angeles, Hollywood
Um sitio muito especial feito de plástico...

23/6 California
Na Califórnia havia paisagens fantásticas para ver e, como são Americanas, são obviamente muito melhores que tudo o resto do mundo! Por exemplo, o Gran Canyon e' inultrapassavelmente impressionante! O facto de haver um canyon maior no México mesmo ali a baixo pouco interessa!.
Mas o que realmente senti nos states foi o que sinto quando vejo um filme de Hollywood: "Tirem-me daqui!" e assim cruzei fronteira para o México depois de uma semana de plástico.
E como não senti nada de muito positivo aqui, fico-me por este post.

24/6 Local Music
Ah, o melhor momento nos states: a Rocio leva-me da praia onde filmaram o Baywatch de volta ao meu hotel em Hollywood no seu jeep (um carrão gigante guiado por uma rapariga pequena). Nesses 45 minutos de viagem ouvimos musica local!!!!
Naturais da Costa Oeste, San Francisco. Uma das mais estranhas musicas locais que já ouvi em todo o mundo, por ser tão familiar e, por outro lado, só agora estar a ouvi-la na origem, só agora a compreendo:

 

18 June 2010

Buda em Pânico

Nota: o blog estava a ficar cheio de entradas descritivas e ainda não me apetece escrever sobre americanos obesos. Podemos sempre fingir que estou a atravessar o pacifico num cargueiro, tempo propicio a' reflexao, ao tal virar-me para dentro. Portanto, resolvi verter um pouco do meu diário para aqui.

o pânico de que a viagem se acabe. E de seguida esta vontade de voltar para trás, de refazer tudo de novo. Não repetir, mas diferir refazendo. Sentir o novo sempre. Como aqui uma obsessão. Querer voltar aqueles momentos e repeti-los. Quero sorrir sempre como sorri quando me apaixonei ou cheguei ao fim da linha da noite e havia uma praia de lua cheia com gente ah minha volta que dançava a rir. Ou então o primeiro dia de escola! Aquele dia. Porque e' sempre aquele que quero. Nunca um qualquer. O indefinido, o "um pé descalço na areia" não serve neste pânico. Não serve um pé descalço. Só serve aquele teu pé descalço de Alentejo ou aquele meu pé descalço de sargaço.

E depois acalmo. Transformo de alguma forma esse aquele num indefinido um. Aquele pé descalço torna-se um pé descalço. E portanto alcancavel, repetivel. Mas se a ansiedade passou, sigo caminho a correr, em busca do próximo presente de pé descalço. Da próxima duração. Do próximo aperto, contracção de músculo e tempo.

E se digo isto e' por estar em êxtase, talvez como uma droga, uma viagem da qual não se quer sair e ao mesmo tempo já um pânico de dependência. Há, em cada um dos dias que correm por estes dias, uma duração, um acordar a meio, um olhar da consciência, em que (como se estivera no memento), nem preciso de saber do passado, ou do que estava a fazer ou pensar, em que basta aquele próprio momento . E e' tão real que todos os que se cruzam por mim tem só um adjectivo: sorridente. E' isto certamente o Nirvana. Mas este não me dura para sempre. Buda em pânico porque o Nirvana não lhe dura todas as suas duracoes.

E aqui a mais antiga de todas as minha licoes: um homem nunca resolvera todos os seus problemas, porque a pilha dos problemas e' infinita. Amigo, por debaixo do teu mais profundo e doloroso problema ha' sempre um outro que te atormentara! Não te preocupes demasiado em resolve-los. Escolhe uma boa tormenta e antes aprende a conviver com ela. E' que esta tormenta de Buda em pânico não me parece nada mal!

Digam la' que nao se nota o panico :-)

viajar vibrar mimar fingir existir

Em viagem passamos no inicio de momentos de vibração lenta para momentos extremos de sensibilidade. Mas isto só com os meses se vê. Em viagem, a aceleração e' lenta mas a velocidade no final e' limite. Com os quilómetros o corpo fica mole e vibra a tudo. Aceitar o mundo e' estar em sintonia com ele. A tudo reajo com forca de sincronia. Ao riso, rio mais forte e sinto o Riso forte e ultimo, ao choro que vejo, trago lágrimas mais acidas, que dobram o corpo. E e' tudo Tao intenso que chega ao ponto de doer. E depois há ainda muitos outros pontos. Mas o ponto ultimo, e' o ponto teatro (Nietzsche). E' quando me vejo a mimar o mundo, com quem estou em sintonia, que me apercebo de que estou aqui.

Viajar e' também esquecer-me de mim, descentrar. Só no final da intensidade surge o eu outra vez porque se vê nada, como uma emergência. A consciência nasce no momento em que podia o corpo seguir em sintonia com o mundo, mimando-o para sempre (Bergson). Mas no momento da intensidade máxima, no limite. E' no exagero que a consciência volta e me diz que eu sou, individuo, e que devo continuar a existir. E' o corpo que impede o desfazer-me em mundo, agua de balde que não se deixa espalhar no solo.

Tempo Memento

O tempo e' o assunto mais dificil da filosofia. Filosofar e' simplesmente atirar o entendimento que temos das coisas para o lado e dar um passo em frente, seja em que direccao for. E filosofar o tempo e' quase impossivel! Um dos atalhos para filosofar o tempo e' comecar pela memoria. Mas para filosofar a memoria e' preciso filosofar tudo. Filosofar a memoria arrasta a filosofia toda. Mas nao deixa de ser mais facil do que o tempo.

Depois de ler Bergson e Deleuze (e deixando Heidegger na lista dos "a ler" ha ja anos), o tempo nao muda muito de forma. Como se aquelas palavras nao fossem compreensiveis: evento, duracao, presente passado, series e sinteses do tempo, memoria pura. Dificil, muito dificil.

MAS, bastou meio filme para que tudo encaixasse, nao de forma clara, mas de forma definitiva. Memento e' um filme americano, e portanto, de accao. Mas e' de tal forma interessante que ate consigo ignorar o desnecessario. Memento deixa uma impressao forte e simples: uma linha de fuga no pensar o tempo.
Memento e' um filme sobre memoria. E leva-nos tambem para problemas de identidade, individualidade e etica. Mas o que tem de mais brutal e' aquilo que faz a' nossa concepcao do tempo.
Depois de ver memento ja nao ha relogios ou calendarios que nos valham e podemos ai, bem antes da aparicao do problema etico que a cena final nos atira, pensar o tempo de novo. Pensar o tempo antes da etica!
E' um filme que me vai fazer pensar durante meses...

17 June 2010

Ler/viajar, viver/mastigar

Viajar com livros na memoria e' potenciar uma viagem. A Índia do Kipling e do Tagore, a Sudamerica das Venas Abiertas, do Vargas Llosa ou do Sepulveda, o Shanghai do Malraux... e, para alem da musica, a terra das imagens também, o Japao do Ozu (e do Andando), a Índia do Apu, o Brasil das Aspirinas e Urubus, e claro, e' aqui nos Estados Unidos que faço uso dos, de outra forma inúteis, tantos filmes Americanos que vi. As referencias multiplicam-se a cada momento. Mas os livros são o que mais enriquecem uma viagem. E são muito poucas as letras que trago. Isto enquadra-se na minha aprendizagem de viagem: os livros, a bicicleta, o navio, o couchsurfing, a boleia, o sorriso, etc. Viajar e' aprender a viajar, como viver e' aprender a viver.


Mas a verdade e' que nunca gostei de ler! O corpo queixa-se e quer sempre mexer-se, usar-se. E o cérebro pede mais tempo de letras. Ler sempre foi como mastigar uma iguaria, quando desfazemos o bife com os dentes já sentimos aos poucos o seu sabor, mas ainda nao ha prazer senao numa esperanca (como a esperanca no Sol ou amor de amanha). Mas os livros sabem a papel, e ler sabe a mastigar papel. Nao fosse a esperanca, queimava-os ja'! Mas e' no engolir, o sempre grande momento de virar a ultima pagina de um livro, e no digerir que esta' o prazer do garfo. O que vale também são aqueles momentos de memo'ria em que nos lembramos do que comemos, em que se abre o apetite para mais. O lembrar o que já se comeu e sonhar com mais. A paixão pelo "já ter lido", Ah, o viajar pelos livros que já li! Ah, as memorias das letras, e portanto, a fome de letras como quem conversa sobre francesinhas depois de uma tarde sem comer.

Viajar e' o oposto destas letras/comida, as fotos de viagem valem tão pouco... O viajar faz-se precisamente na "leitura", no mastigar, no evento. Viajar e' sentir o vento na cara e nunca recordar a pele e o vento. O melhor do viajar e' aquele sentir das letras a passar diante dos olhos. Tomara eu saber pousar os olhos no livro como quem lança os pés descalços ao caminho!

16 June 2010

Sonho cancelado da' em viagem encapsulada no tempo

Havia um plano interessante para a passagem para as Américas:



Era uma viagem de 11 dias pelo Pacifico fora em cabine de classe: eu, 10 passageiros e umas boas centenas de contentores. O itinerário era Pusan, Korea do Sul ate' Long Beach, Los Angeles, USA. Depois de vários contactos com quem me poderia vender o exótico bilhete, entendo que as três semanas de espera pelo VISA Americano e pela viagem (as partidas sao quinzenais) seriam longas e caras, nao estivesse eu no Japao. Foi um plano bom de manter e a verdade e' que ja estou arrependido de ter trocado os 2500eur que a brincadeira me poderia custar por um voo entre Osaka, Japao e Seatle, USA.
Ha sempre esta relação com o mar paisagem, quadro que mexe e dai um devir marinheiro. Era esta a oportunidade. Ficou no Japão este grande devir, o devir marinheiro, o devir marítimo.


Em Osaka, a sul de Toquio, fico num capsule hotel. Este capsule hotel e' o sitio mais estranho que vi em toda a viagem. Na recepcao pagamos e deixamos os sapatos, na sala de lockers deixamos a mochila e vestimos um pijama bege (opcional), subimos a' zona dos quartos e encontramos as capsulas, bege:



O chão e' de alcatifa castanha clara e tudo nos da' a impressão de estarmos numa nave espacial. Na sala comum há sofás, maquinas de jogos e revistas manga. Todos os guests estao de pijama bege, todos estão sozinhos, ninguém fala com ninguém, as televisões ao fundo estão em silencio, alguns guests usam as poltronas confortáveis e auscultadores para dormir ou ver televisão. Outros comem ali os noodles tirados da maquina de vending. Descemos mais um andar e chegamos a' sauna, tiro a roupa toda e entro na sala de banhos, vários homens nus estão sentados em potes pequenos em frente a espelhos e chuveiros muito baixos. Todos se lavam. Eu entro numa sauna muito quente e vejo ai o jogo do Japão no mundial de futebol. Saio e enfio-me num tanque de agua fria, depois num jacuzzi e depois sento-me em frente a um dos espelhos e uso o chuveiro para me lavar como os outros homens. Desde que deixei a recepção, não ouvi uma única palavra! Aqui ninguém fala e parece que estou entre homens mecânicos de pijama bege ou corpos nus. Este homens só podem estar tristes! São membros da praga humana, não te'm espaço e perderam as suas aptidões emocionais!? Um exótico Japonês.
O delicioso okonomiyaki ao jantar ajudou a tirar a esta noite um pouco deste sabor a artificial.







O voo parte de Osaka a's 18h. São 10h de viagem, vou chegar as 4h da manha do dia seguinte! Ah, não, se e' para Este são +8horas, logo, vou chegar as 12h, meio dia, do dia seguinte. NÃO, a linha magica do nosso calendário falso leva-me para -16horas! Vou chegar ao meio dia do dia da partida. Viagem no tempo de 10h que me leva 4 horas para trás!

E assim me deixo de niponices, ate' ja' Ásia!

13 June 2010

Kyoto

Há um sem numero de países a que se chama "Suica da...", Singapura como Suica na Asia, Jordania como Suica do Medio Oriente, Chile como Suica da America do Sul, e por ai fora. Mas a verdade e' que estes paises tem muito pouco de Suica a nao ser o facto de serem os mais ricos e organizados da regiao. No entanto, ha um pais que e' de facto uma Suica fora da Europa: o Japao e as suas inumeráveis semelhanças (incluindo os Alpes Japoneses!). Mas o Japao e' claro uma Suica absolutamente especial. De todos os exotismos que ja vi, nenhum e' realmente moderno, nem sequer o Chines de Shanghai ou Hong Kong. O Japao e' o grande exótico moderno.

O hostel em Kyoto e' aquilo que precisava de ver no Japao: uma casa tradicional japonesa com aquela sala de estar e de jantar tao caracteristica. As portas de correr de madeira e cartao, a mesa baixa, as pessoas descalças, as pinturas japonesas na parede, a janela para um jardim zen, o sake servido a' mesa com luz baixa. E, para completar o cenário, um grupo de viajantes em sintonia.

No ritmo calmo da conversa com sake passou um so Japones que nos ajudava a contextualizar as conversas: o Roberto, filho de uma brasileira mas Suico de gema, e' igual ao Johnny Depp, viaja a' boleia pelo Japao e fala-nos das personagens incríveis que conheceu na estrada; a Marion dos Alpes Franceses e' uma verdade fille de la montagne que sorri e partilha as suas coisas com uma naturalidade desarmante, o Adrian filho de Argentinos mas Canadiano de gema, pega na minha guitarra e toca algumas pecas de flamenco incríveis, e a Oh Me, uma estudante de arte vinda de Taiwan que desenha manga profissional e que, em 10 minutos, desenha um Roberto/Johnny Depp em manga impressionante.



Em Kyoto ha dezenas de templos Budistas, o mercado mais limpo e organizado do mundo, lojas de leques, geishas, lojas de bonecas, sentous (banhos quentes), alfaiates, uma loja brutal de kimonos usados onde passamos horas a experimenta-los e um museu de manga onde descubro um admirável mundo novo.



















































































30 years ago a friend of mine also came to Kyoto! He was younger than me and he says:
It looks good, it tastes like nothing on earth
Its so smooth it even feels like skin, it tells me how it feels to be new



He is obviously talking about Japanese SAKE!!!


11 June 2010

Automated Parking Lot in Tokyo

This is such a familiar idea to me. Why drive in the parking lot? You could just put the car in a box and the automated parking lot would stuck it somewhere inside a huge box? Just type your license plate to get your car back. The future in Tokyo:



10 June 2010

Tokyo - Mushi, mushi!

Uns minutos depois da chegada a Tokyo, na casa de banho, já há sanitas inteligentes e, depois da descarga automática, alguém diz do outro lado: Mushi, Mushi! (e' assim que os japoneses atendem o telefone). De seguida, em busca de um autocarro, ja todos me dizem Arigatou e abanam a cabeca para a frente e para trás, movendo o pescoço daquele forma que so os japoneses sabem fazer. E depois os policias sinaleiros que nao so abanam a cabeca como me fazem venias quando passo. O impacto e' brutal!


O autocarro para o centro da cidade e da noite acaba mesmo no distrito do sexo de Tokyo. E logo abaixo, um dos maiores distritos de compras. E, se na maior cidade do mundo ha arranha céus e lojas modernas, ha tambem entre 35 millhoes de pessoas, bairros e quarteirões de cidade pequena, com casas com um so andar e de pe direito minúsculo, onde todas as portas sao mais baixas do que eu. E tambem aqueles mini restaurantes onde se comem noddles, ou sushi ou arroz numa das milhares de variacoes.





Em Tokyo ha muitos restaurantes mas quase nenhum e' de Sushi! Os restaurantes de Sushi sao especializados. E' tao importante o Sushi como o bacalhau em Portugal!? E se o mundo inteiro se viciasse em punhetas de bacalhau como se viciou em sushi? Bem, para alem do Sushi ha mil coisas, desde estufados a todo o tipo de carne com gordura em cima dos noodles, aos ovos escalfados com arroz (o meu favorito), tempuras de todo o género, dumplings maravilhosos, yotomiaki (primo dos crepes, omeletes e pizzas), e claro, sake' (que e' simplesmente a palavra Japonesa para álcool)!

Kimono na rua e Samurais no museu:



















10kms a correr pelas ruas de Tokyo de casas pequenas mas tambem de torres modernas e parques:


































Pachinko e o cruzamento mais movimentado do mundo:



Templos com pedidos aos deuses e celebracoes publicas:






No Japao bato a cada dia recordes de "o mais caro X que alguma vez adquiri". Comecou no hotel por 110eur a noite que ainda por cima foi curtíssima, das 3 da manha a's 10h (checkout). Eu sei que muitos de voces ja gastaram mais do que isto, ou ate gastam regularmente, mas para quem vem de um hostel em Yangshuo por 3eur a noite, ou de Beijing onde uma cama de hostel "cara" custa 9eur, 110eur e' um absurdo. Depois "investi" 120eur numa viagenzinha especial de comboio: sao 9 horas de autocarro (40eur) ou 2h20m num comboio voador. A quase 400km/h o Japão mostra-se húmido e verde por entre as brumas. As casas baixas por todo o lado e as vilas incrivelmente simpáticas numa paisagem que, apesar de passar rápido, deixa memorias incríveis. E finalmente, num restaurante normalíssimo de Tokyo "bufo" 900yen (um pouco mais de 8 EURs) por uma pint (que nem devia ter 400ml de  cerveja) (que nem sequer era boa) que nem consegui saborear... sabia a dinheiro e esforço gasto a ganha-lo. Depois de num mês na China ter gasto 800eur, 7 dias de Japão custaram 700eur. Infelizmente, o Japão soube muito a dinheiro... kimono com cifrões, tive de fugir!








O Devir sem Abrigo: "Porque' uma cama e não o asfalto?"

Tokyo e' a maior metrópole do mundo, 35 milhões de habitantes. Para cada mil habitantes, há um sem abrigo. E eu vi um para cada mil destes 35000. Cheguei a Tokyo ja meia noite e vi as altas torres iluminadas. As passadeiras e os sinais luminosos dos assistentes de tráfego que me faziam vénias quando passava. Na porta da torre estão a sair do jantar ou do trabalho uns 5 jovens engravatados. Uns metros depois há cartões que cobrem um corpo que dorme no passeio de asfalto imaculado. A' frente a mais antiga loja da Apple fora dos USA. Depois, corpos embrulhados em cartão. Não há telefones e os hotéis são todos de 3 ou 4 estrelas (200eur por noite).

Eram já 3 da manha e não conseguia parar de vaguear pelas ruas de Tokyo tamanha era a inspiração que
aquele lugar novo me passava (este e' o momento mais alto desta viagem de meses). Continuei a vaguear/divagar! Ao passar por ali, vi uma guitarra que tinha esquecido numa mão de corpo. Tirei uma foto. Era eu reflectido numa montra que fazia espelho e pensei, claro, "quem vai ali?" e a grande questão desta viagem "porque teimo em ser eu?". Porque' eu este e não outro? Porque' azul e não amarelo? Porque' pensar isto e não aquilo? Porque' uma cama e não o asfalto?


A resposta a esta ultima questão poderá parecer fácil ao leitor arrotinado mas aquele corpo reflectido aprendeu ali a impossibilidade da solidão. Só não durmo no asfalto porque não estou sozinho, trago-te sempre comigo. E se sempre teimo em ser eu, e' so' por isso, porque estou contigo. E encontro aqui a grande barreira da minha "normalidade". O grande bastião da minha liberdade e' uma corrente. Eu, o mais isolado dos viajantes, o mais só e livre dos pássaros, nunca estou realmente sozinho nem livre. Eu estou sempre comigo, e estar comigo e' estar contigo, e' estar com o Outro. "Quem sou eu?" vira "eu sou o Outro".

E nesse sentido, eu sou um dialogo. Estou sempre com alguém, estou sempre contigo leitor. Bem cá dentro eu sou sempre o que tu vês em mim. E ali, naquele espelho de montra de Tokyo, não fui eu que me vi, foste tu: o Outro olhou para mim ali, eu estava só no reflectido e naquele momento não era ninguém. No espelho havia só um corpo. E esse corpo, eu, era ninguém. E foi preciso voltar do espelho para voltar a ser eu. Parar a viagem em direcção ao Outro e deixar que me olhassem. Foram precisos 110eur de eu para pagar aquele quarto de hotel onde o corpo reflectido dormiu sozinho, e eu contigo, leitor. A cama foi o preço da consciência.

E' aqui que Sa' Carneiro e' mais útil que Pessoa para nos nos explicar. Ah, se Sa'
Carneiro fosse so' mais um heterónimo de Pessoa! E' esta também a razão da importância da palavra esquizofrenia na explicação do Eu: etimologicamente como cisao da mente mas também clinicamente como ideacao persecutoria, tudo regado em largas doses de alucinacoes mais ou menos comuns (ou, diriam outros, mais ou menos reais).

(neste post o "leitor" faz o papel de plateia, qualquer plateia. Vem de um livro muito interessante que li há muitos anos: "o instinto de plateia" onde se analisam as plateias interiores que todos temos: "Com quem falas quando falas sozinho ou pensas? Quem são os teus interlocutores internos?")

09 June 2010

See you soon China

Colombia, Syria and India are now out of my top favorite countries in the world, there's only one country there now: China.
I will be back and you will teach me how to play and sing this song for you, see you soon China.
I have been obsessed with this melody lately: 不会说话的爱情:
http://blog.oeeee.com/aspspaw/uploadfile/2007121723572176.mp3

08 June 2010

The Spirit of Chinese Philosophy

Educating with Lao Zi, Confucius and Mencius:

Gold and the Globe with no stars or stripes

In China, with a relaxed voice, I told this American guy in his 50s  that it is just natural that things change, generally. I told him that there will be a time, maybe soon, when English will not be the language of us all. I told him that I think the American empire will end at some point, just as any other empire. And I asked him how his country will react to that: what's an American if the US is not an empire?


As usual, I was just playing with some random ideas to see if we could get somewhere interesting. Well, he didn't enjoy the game, but I did! Unexpectedly, this common man, an employee of the American government, slightly raised his voice and said: "English will always be the language of the world!". Isn't this a wonderful statement? I smiled and threw an unreplied utterance to the air: "Even in 500 years time..."

It's just that I open the magazine and I see Gold and the Globe and no stripes or stars:

Beijing (pictures)

Infinity

                     Erased Mao













Beijing Faces










 




A golden statue!



Old Beijing