27 September 2010

Dia 195, Londres, dia de permanecer

No dia 195, em Londres, há’ formigas no tubo, o metro, estreito. As linhas assustadas traçadas pelos olhares, o bambolear da carruagem, o aviso no microfone em voz mecânica, inglês pois. A escada rolante ate’, leva ela também um certo cinzento. Estamos no inicio de Setembro, esta’ a chover, merda. E’ escusado continuar a contar os dias do verão. Já chegou o Outono, já não há viagem, ou surpresa. Há’ só’ comboios para sítios onde tenho de fazer coisas. E’ escusado continuar a sonhar com o ar puro ou agua do mar. E’ Outono!

O dia 195 e’ o dia de parar a contagem, viagem. E’ dia de parar de sentir. E’ dia de parar de sonhar, parar. Parar de ir, sorrir. E’ Outono. E’ dia de obedecer, dia de permanecer. E a gota que corre pelo vidro da janela do comboio, escorre também pela minha cara.

No dia 195, permanecendo, a própria tristeza e’ mais banal, como no dia em que falta um ano inteiro para o Carnaval:

08 September 2010

A volta ao mundo em (cento e) 80 (e oito) dias

Há pouco mais de 6 meses sai de casa, a mochila tinha 5 t-shirts, 5 livros, uns calções e pouco mais. Os sapatos iam nos pés e mais nada. Se o pensar pesasse (trouxe tanta coisa de casa para a viagem e agora volto com tanto mais que) um cargueiro não chegaria para tanta intensidade (sem esquecer que o peso de um poema e’ inverso a’ duração do seu fôlego).

Foi uma viagem excepcional! Uma viagem muito maior e mais interessante do que o que pensava ser possível. Uma viagem que não tinha plano mas que tinha aspirações. Aspirações a’ inspiração, a’ diferença. Uma viagem que pretendia mudar a minha vida, que pretendia mudar-me a mim, que pretendia atirar-me mais adiante. E assim o fez (processos maioritariamente não representados neste blog). Foi uma viagem com um pouco de tudo, mas foi acima de tudo, uma viagem BOA . As incontáveis memórias misturam-se com o que mudou em mim: uma enormidade. O mundo como máquina de moldar homens.

As etapas
Primeiro veio a paz, o deixar o stress de 2 anos de trabalho intenso sair pelos poros... no Egipto. Depois veio a inspiração do médio oriente. Nem sei porque pus este passo no caminho para a China. Um grande golpe de sorte atira-me para uma região do mundo incomparavelmente fascinante: Palestina, Síria e Líbano estão agora no top dos meus países favoritos para viajar. Sempre que alguém pede recomendações eu sugiro: médio oriente! Para os mais medricas, ao menos a Síria!

Depois veio a concretização de dois objectivos que foram crescendo no médio oriente, viajar de bicicleta e conhecer a China, esse exotismo máximo. Um mês de descoberta da China encheu-me de vontade de para lá ir viver. E, como se não bastasse, uma semana no Japão representou uma cereja em cima deste bolo exótico, que grande surpresa este Japão singular.

A terceira etapa da viagem, os Estados Unidos, apareceu com um objectivo utilitário: será que eu vou gostar? Será que e’ um pais onde poderei viver? Ou será um país para esquecer? Aos 30 anos e depois de ter viajado tanto, já não podia deixar estas questões por responder. No entanto, a passagem relativamente rápida para o México funcionou como um escape de um mundo que me desagradou. Talvez mais tarde…

Depois de 4 meses exóticos cheios da tão desejada diferença, as férias com a M na América Central foram puro gozo, a descoberta de um continente pequeno (do tamanho de Franca) e de uma realidade político-social muito triste: umas férias maravilhosas!





Depois da viagem
Há já vontade de voltar… a’ viagem claro! As minhas viagens são sempre rápidas. Nunca fico muito tempo num só sítio. Há vontade de voltar rápido ao médio oriente, acrescentar o Irão que ficou por pouco de fora. Há muita vontade de voltar a’ China onde quero viver, e também ao Japão cujos 7 dias que la’ passei souberam a muito pouco.

Talvez tenha sido a viagem da minha vida. Ou talvez não, a melhor viagem e’ sempre a iminente. Ou talvez não. A viagem da minha vida vai ser uma viagem que farei quando me reformar: sair de casa de bicicleta e chegar com ela a’ cidade do cabo, ou ao sri lanka, ou a Beijing (vou ter tempo para planear). Aos 30 passo pelo mundo rápido como quem diz olá e ate’ breve, aos 60 viajarei lento como quem passa para dizer adeus.

Ou então, daqui a dois ou 3 anos há mais! Começando na China, no inicio do Verão (2013) parto em direcção a’ Ásia Central e, sem voar, cruzo para o Irão onde poderei voltar a’ tão querida Síria. Depois de rever a Palestina e o Egipto, partirei numa viagem em direcção a sul por essa África adentro…
Pensavam que isto tinha um fim, não e’? Ate que eu morra, a realidade precisa de mim.

The 188 nights and 77 beds

A list of the 77 beds I slept in in the last 6 month, including 15 new countries for me (I didn’t count the beds exactly):

BELGIUM BRUSSELS EGYPT CAIRO   DAHAB   SINAI   NUWEIBA JORDAN WADI RUM   PETRA   AMMAN ISRAEL JERUSALEM   TEL AVIV SYRIA DAMASCUS LEBANON BEIRUT SYRIA DAMASCUS   PALMYRA   ALEPPO TURKEY ANTEP   ISTAMBUL   BODRUM   OLYMPUS   ISTAMBUL THAILAND BANGKOK LAOS VIENTIANE   VANG VIENG   L. PRABANG   NORTH LAOS CHINA YUNAN   GUILIN   YANGSHUO   MACAU   HONG KONG   SHANGHAI   BEIJING JAPAN TOKYO   KYOTO USA SEATTLE   SAN FRAN   LA MEXICO BAJA CALIF   MAZATLAN   GUADALAJARA   DF   SAN CRISTOBAL GUATEMALA TILAPA, XELA   ATITLAN   ANTIGUA HONDURAS COPAN, CEIBA   UTILA   SAMBO CREEK NICARAGUA MANAGUA   GRANADA   S. JUAN DEL SUR   OMETEPE   LEON EL SALVADOR EL TUNCO GUATEMALA RIO DULCE   LIVINGSTON BELIZE HOPKINS   CAYE CAULKER MEXICO CHETUMAL   TULUM   COZUMEL   PALENQUE   DF USA NYC UK LONDON

Grabete (o preço da brincadeira)

Para quem esta' a pensar fazer algo do género, estes números podem ajudar: foi uma volta ao mundo de 188 dias que custou (quase) 8000eur mais 1800eur para as viagens de avião (compradas adhoc conforme fui querendo, sempre one-way, e sempre direcção Oriente).

Os três factores mais importantes na estimativa de custos são (1) o preço das coisas no país de destino, (2) a velocidade (relativa ao tempo que se fica num dado local) e (3) viajar sozinho ou em grupo. Sendo que viajar sozinho e’ 20/40% mais caro que viajar a dois e quanto mais rápido se viaja mais cara fica a viagem.

Neste caso, a minha viagem foi quase toda solitária e muito rápida (e’ normal viagens a’ volta do mundo de um ano terem menos paragens que esta de 6 meses) o que atirou o custo médio para 42eur por dia. Este valor depende claro dos níveis bem diferentes dos preços nos locais visitados. Definindo, por exemplo, 3 grupos:
- destinos caros, USA e Japão: 70/80eur por dia
- destinos de custo médio: Israel, Jordânia, Turquia, México e cidades da China - 40/50eur por dia
- destinos baratos: Egipto, Síria, Laos, Sul da China, América Central - 20/30eur por dia

Deixo um resumo do trajecto e respectivos custos:



06 September 2010

Amérdica

Os dois últimos mexicanos que representam muito do que vi e senti nesta Amérdica do norte e centro.

O recepcionista
As histórias de cruzar o deserto para o outro lado (estados unidos) repetem-se. Aos 17 anos foi com um tio pelo deserto, 4 dias, 2 dos quais sem comida e com pouca água, la chegaram ao pais do dinheiro. Ai fez o secundário, e começou a trabalhar, um pouco de tudo, construção civil, pintura, lojas e um filho que agora tem 2 anos. Um dia regressava do trabalho em Nova Iorque, um carro segue-o, manda-o parar, mostram a identificação da policia. “Legal or illegal?” “Illegal sir” “Me dieran la ?fenolia?” “Es el peor que te poden dar”. Aos 23 anos chega deportado ao seu México, vai para a grande Cidade do México. E’ o recepcionista do hostel no centro histórico e oferece marijuana de fumar aos seus convidados americanos que lhe dizem revoltados: “Why the fuck you want go back to my stupid country? People are stupid there man!”. “Me gusta la diferencia y bueno…” (o polegar e o indicador dizem dinheiro). Este rapaz usa um tom de voz inocente e humilde, dizia que queria aprender português e pedia-me conselhos para como estudar. Há rapazes com cara de bonzinhos, que querem conhecer as coisas curiosamente e viver uma vida boa. Mas o mundo em que nasceram, muitas vezes, não os deixa.

O homem que cheirava cola
O último mexicano que me disse algo tinha as calcas rotas e parecia que me queria roubar. Olhou para mim e pôs a mão dentro das calcas de ganga sujas e largas. Dai, bem do centro na frente, sacou uma lata amarela, verteu um pouco numa das mãos e encostou de imediato a mão a’ boca, inspirando. Teria uns 35 anos e parecia cansado, baixou a cabeça sobre o suporte de metal. Estamos no metro da Cidade do México a caminho do aeroporto, a deixar para trás este continente.

O meu espanhol
Havia um objectivo mais ou menos fácil de atingir nesta norte/centro América: falar unicamente espanhol durante 2 meses (evitar o inglês nem sempre e’ fácil com tanto gringo a passear por aqui) e fazer o meu espanhol saltar de intermediate/fluente para expert/muito fluente. As últimas palavras que ouvi dizer em espanhol aqui foram “Usted habla muy bien espanol! Buen viaje!”. Fiquei contente. Os caminhos da aprendizagem de línguas são muito árduos (para mim, ao me nos), cheios de frustrações: o espanhol e’ fantástico por ser tão fácil.
Hasta la vista Amérdica...

Um americano e’ uma coisa sorridente, ele não tem culpa!

Um americano diz a voz alta quando brindamos na mesa do hostel: “Great! All different countries here: France, New Zealand, Australia, Portugal, L.A., Belgium” (LA e’ Los Angeles, uma cidade do estado de Califórnia nos Estados Unidos). Ele não disse isto como piada, e ate’ e’ algo que muitos americanos fariam (e’ fácil imaginar um nova-iorquino a dizer o mesmo). Que hei-de eu pensar desta curiosíssima situação?

Um americano e’ uma coisa sorridente, ele não tem culpa! Um americano viu televisão (ou youtube) a mais, sorriu e na escola aprendeu a sorrir mais com competência, a vender. Um americano aprende a ser bem sucedido: ser famoso, ter dinheiro. Um americano aprende a cantar USA e a gostar e defender a bandeira.

Um americano concorda que chamar “comunista” a outro americano e’ um insulto. Conheci um que era antigo membro do partido comunista americano (sim, existe!). E uma das primeiras coisas que vi em Seattle, a primeira cidade que visitei nos Estados Unidos nesta viagem, foi uma estátua bem grande do Lenine (sim, e’ incrível!).

Um americano não tem culpa que um americano não goste dele. E’ que um americano gosta dele! O que um americano não gosta num americano e’ o seu ser americano, tudo o resto e’ tão maravilhoso como outro ser humano qualquer. Sem mudar de exemplo, o mesmo personagem que brindou a’ sua nacionalidade de Los Angeles e’ um jovem interessante de 30 anos que deixou a sua carreira de contabilista para viajar de mota pela América Latina e descobrir a sua vocação, ser artista!

Um americano gosta do exército. Ele tem uma metralhadora e passeia nos halls do maior aeroporto do mundo de camuflado castanho claro. Um em cada 200 americanos estiveram no Iraque a matar Árabes (ainda não conheci 200 americanos mas já conheci 3 que estiveram no Iraque a matar árabes). Ou será antes a América, e não o ser americano dos americanos, que um americano não gosta? Nada disso! Nada contra a América ou os americanos! At all! O problema e’ a América simulacro, simulacro do que realmente um americano não gosta, simulacro império dominador, simulacro capital de negociante. O braço mais forte, o meu braço direito, mete-me nojo. O (corpo) continente inteiro.

Um americano no Panamá teve o mesmo papel que um americano no Iraque. Alguém que manda lá não fez o que um americano mandou. “no problem”, manda vir um americano ( 1,5 milhões!) para limpar o assunto. Passados 7 anos, um americano (preto) diz: “ok, agora acho que agora eles conseguem entender-se”.

Se um americano (30 mil) regressar com problemas físicos ou psicológicos, e se outro (5 mil) morrer, “no problem”, foi pela pátria!? Que há-de um americano pensar disto? Alguma coisa esta’ errada? Onde estavam o Popper e o Russell quando escreveram aqueles livros que faziam um americano acreditar no caminho que se segue? Ah, já sei, estavam com medo das bombas atómicas e não podiam dizer outra coisa senão ser positivistas: coitados optimistas.

Um americano fala do fim da história. Qual historia? Esta, simples: “e a guerra continua", nada de novo em séculos e séculos. Se calhar ainda vou viver a terceira guerra mundial. Ou então a queda do império Americano. Enfim, há um país lindo que temos de visitar rápido, antes que seja tarde de mais: o Irão. Ouvi dizer que a grande pérsia (Irao) segue a grande mesopotâmia (Iraque)! E depois não haverá sequer arqueologia que os salve, vão ser so’ MacTablets, CuneiformKings e BigDarios!

Um americano, Pollock, quando era jovem:


01 September 2010

Moralidade Judaico.... cristã

Todos nós (portugueses) temos um pouco de moralidade judaico-cristã incutida em nos. Aquele princípio geral do não desperdício fundado no dever comer a comida toda, não a deixar no prato, ai pobrezinhos que morrem a' fome!

Tudo começou pela compra de uma pasta de dentes com um sabor bem mau, horrível, ou talvez nem tanto. Ao longo das semanas, aquele sabor mais ou menos mau foi habitando as nossas bocas. Algumas queixas esporádicas, mas nada mais.

No último dia das férias, fui lavar os dentes antes de me deitar, voltei, deitei-me na cama e disse:
- Sabes qual foi a pior coisa destas férias?
- SIM, a caganeira e vómito ao mesmo tempo - disse a M.
- Ah! Não, isso ate' e' giro para contar aos netos! O pior foi o sabor desta pasta de dentes! - disse eu.
- Tas a gozar, tu nunca deitarias a pasta de dentes fora! - disse a M.
E aqui começou a nossa divagação judaico-cristã. Porque raio não deitamos a pasta de dentes ao lixo logo no primeiro dia e compramos uma nova? Porque temos uma moralidade judaico-cristã impregnada! Não desperdices!

Bem, mas isto tudo só para falar de etimologia! E' que Judaico vem de Judeus e a M tem uma história bem melhor que esta!

No último dia do nosso curso de mergulho, em Utila (Honduras), fomos mergulhar com uns Israelitas (judeus portanto) muito simpáticos. No ultimo mergulho a M resolveu não mergulhar porque lhe doíam os ouvidos de tanta variação da pressão. Mesmo antes do mergulho a M falava com os seus amigos judeus que a aconselhavam quanto ao mergulho e a' dor de ouvidos. Ate que um deles se vira para o outro e diz algo em Hebreu (língua dos judeus cheia de ram ram's). Os dois partem-se a rir e o outro traduz "Even if you are not diving, you should go snorkelling with your tank, because you paid for it" (mesmo que não mergulhes devias nadar a' superfície com o teu tanque, já que o pagaste). Todos se riem e um deles diz "It's in our vains, we are jews" (está-nos nas veias, somos judeus).

Em pleno Caribe a M faz arqueologia da moral... do judaico ao cristão.

O verão das nossas vidas

40 dias depois ela sobe as escaditas do autocarro e senta-se. Mas eu tinha-lhe escolhido o lugar a' janela, alguém se tinha já sentado no 5 da janela e ela ficou só com o 6. Que podia eu fazer? Entrar por ali a dentro e dizer que a janela era para ela? Que raiva!

40 dias depois acabou o verão. O Outono que ai vem, seja ele qual for, da vontade de chorar. Que fazemos agora? Pensamos em como evitar o vento e a chuva que ai vem? Ou pensamos em como foi bom o verão? Tu memoriza-me tudo! Escreve! Que eu quero lembra-lo quando eles forem já grandes.

40 dias depois ainda quase não chorei e dói-me a cabeça das lágrimas acumuladas. Melhor e' dormir na cama vazia. Deve-se sempre dormir na diagonal quando falta alguém na cama. O que me vale e' este jogo de palavras que invento agora em pressas, para que, em velha artimanha, escorram as emoções pelos dedos fora.

40 dias depois acabou o verão das nossas vidas. E agora?

no hay nada mas dificil que vivir sin ti

Este blog e' um falhanço. Servira' talvez para me fazer lembrar no futuro o que senti. Mas para ti leitor, não haverá maior falhanço. Como te explico leitor o que me faz chorar ao ouvir esta musica no voltar a' Latino América, ao voltar a estes autocarros: saltitoes multicolores cruzando verduras abananadas. E o sistema de som que vale tanto como todo o autocarro e os hits do momento que se repetem interminavelmente:

no hay nada mas dificil que vivir sin ti
sufriendo en la espera de verte llegar
si no te hubieras ido yo era tan feliz

Viajar na América – Às armas, às armas!

Apesar dos Incas, Maias e Garifunas, a America Latina nao inspira como outras regioes exoticas do mundo. No entanto, a América Latina e', juntamente com o Sudeste Asiático, a mais bonita e divertida região do mundo e portanto, a melhor para férias: entre Bali e Belize venha o Deus e escolha! E sempre a oposição entre o bonito e divertido das ferias e a capacidade de inspirar, surpreender, ensinar e de nos mudar da viagem.


Voltar a’ América
Na viagem pela Sudamerica descobri os sangrentos descobrimentos e a sangrenta dominação. Ao recomeçar aqui a Centro América, tenho de pisar uma vez mais essa tecla e repetir esta melodia fúnebre: Somos filhos de assassinos!

A história da América
A história desta América e' demasiado triste! Primeiro os Espanhóis que chegam e matam. Depois os Americanos que ora controlam ora destabilizam as políticas para que as bananas cheguem baratas aos Estados Unidos. Uma terra de mortos, de pobres, de fracos que não podem fazer mais que sorrir. Sim, porque se nos somos filhos dos bravos assassinos, eles são filhos dos que souberam fugir, servir, obedecer e sorrir! Ah, os bravos Maias... jazem!
E não e' preciso ler as influenciadas Venas Abiertas, basta ler o guia turístico que, de uma forma mais simpática, não nega esta história lamentável. E a base dessa historia: as conquistas, os descobrimentos, tão orgulhosamente ensinados nas escolas Portuguesas. Era quem pintasse o monumento dos descobrimentos de vermelho sangue (a cor dos monumentos Maias) como uma mensagem para os Portugueses orgulhosos ou saudosos do seu passado de poder: "se queres mesmo os bons velhos tempos no teu país, amigo, compra armas!". Não ouves a canção que cantas com o Ronaldo?

A moral
Ao gritar "somos filhos de assassinos" queria também apontar numa direcção que me interessa bastante que e' a dinâmica das éticas. Interessa-me ver nesta história, contada a cores diferentes, um conjunto de alterações, um percurso, das morais associadas aos grupos. Apesar de agora condenarmos a matança e só se ouvir falar em Direitos Humanos, em tempos, havia quem levasse catana e corta-se mato e pescoço com o mesmo credo, e no final: estátua! Os direitos humanos e a estátua dos matadores de indígenas frente a frente. Ou o defensor dos fracos (coloque aqui qualquer imagem de filantropia) que grita antes do futebol "Às armas, às armas!". Enfim, um mar de naufrágios entre dinamismos morais e morais inconsistentes.