06 May 2010

3/5 Luang Prabang

O rio Kong, Mekong, Nam Kong, tem mais de 4000kms. Nasce nos himalaias, no planalto Tibetano da provincia Chinesa do Qinghai (tching hai) ao norte do Tibete e cruza depois o Tibete e o Yunnan (outra provincia do sul da China). Na epoca das chuvas, o Mekong pode chegar aos 14kms de margem a margem! So depois de muita China chega o Mekong ao Laos. E' o Mekong que desenha, de norte a sul, a fronteira Este do Laos com a Tailandia entrando depois no Cambodja. E' no entanto no Vietnam, la' para os lados de Saigao, que o Mekong morre a's portas do Mar do Sul do China. O Mekong corta assim a IndoChina de norte a sul e e' naturalmente um simbolo basilar para a vida e cultura da regiao. E' o simbolo deste "entre a India e a China". Nome triste este, marcado de colonialismo. Sao escuros e budistas (India) e comem arroz e tem olhos um pouco rasgados (China) mas a sua identidade vai bem mais longe do que estes detalhes.

E' que em Luang Prabang, ja bem no norte do Laos, passa o Mekong. De aguas castanhas e barcos finos e longos de pouca madeira, este rio que corre sempre lento e largo deixa-se constantemente arranhar pela selva. Ao fim do dia, em zonas mais baixas, ha alguns pescadores de rede no centro do rio. Ha ao fundo umas cabanas enfiadas na selva, rio acima. Rio abaixo vai o continente inteiro. Rio abaixo vai o horizonte e o sol.

Para os mais cinefilos ha o Apocalipse Now, e' aqui que estou certamente, as Valquirias gritam bem alto mas nao atingem a forca do Mekong, os helicopetros e as aldeias em baixo. E sabemos que rio acima as coisas sao mais dificeis, ha vilas perdidas e loucuras. Mas aqui ha so um sol que teima em descer e uma esplanada com vista inesquecivel.

Em tempos de colonia Francesa, a viagem de barco a vapor de Paris ate' Saigao era mais rapida do que de Saigao ate' Luang Prabang. Luang Prabang e' um ponto importante dos tempos coloniais franceses. Em inicios do sec XX, imaginem-se os colonos franceses no meio da selva! As casas coloniais multiplicam-se entre as palmeiras. O estatuto de UNESCO World Heritage da cidade ajuda a manter as ruas limpinhas e organizadas, parece outro mundo.

E outro mundo e' mesmo o palacio do Rei de olhos rasgados mas que fala Frances certamente. Da sala do trono a' sala de leitura passando pelo quarto de dormir podemos, neste palacio transformado em museu, ver de perto a vida de um rei de uma colonia. Os presentes de todo o mundo incluem gravuras em seda vindas da China, gramofones americanos e pratos com gravuras em prata Indiana. Mais tarde, no teatro ao lado do palacio houve dancas tradicionais do Laos, com macacos e monstros, princesas e ladroes, xilofones e aquele toque inconfundivel da musica do Sudeste Asiatico. So comparavel as dancas balinesas da Indonesia. Neste palacio fiz uma viagem longa e viva. Com gramofones que tocam Pablo Casals (uma gravacao antiquissima de uma peca de schubert para violoncelo). Com livros de historia colonial. Com gravuras que contam historias. Com fotografias a preto e branco do rei e da rainha. Vivi de rei e de princesa. Fui rei ali dentro. Sou, depois disto, um pouco mais rei da indochina!

Houve ainda a dona do restaurante que se pos a contar a sua vida. Do amor aos negocios. Tem 40 empregados no seu restaurante, guesthouse e resort. Arrenda mais um terreno e outra loja. O namorado Frances nao lhe liga, o ex-marido americano, alcoolico que ja nao via ha 2 anos, suicidou-se ha umas semanas no norte do Laos. Uma chamada da embaixada americana conta ela! O ex-marido do Laos (sim, outro) roubou-lhe uma casa. E depois os dolares... uma longa e interessante historia de vida. Ah, os empregados do restaurante sao todos rapazes: "Do you know why? They used to be all girls, girls work much better, but my american husband used to fuck them all! So I started hiring man only". E isto e' so' um exemplo de historias mirabulantes com cheiro a Indochina.

Amanha parto de barco Mekong acima ate' a Pak Beng de onde sigo viagem (se as pernas ajudarem) para a fronteira com a China.

No comments: