17 March 2010

Wadi Rum (Jordan)

Wadi Rum

No Wadi Rum a distancia aumenta e a rocha cresce rebentada da areia. Ha mais areia do que rocha? No Wadi Rum, um deserto com grandes montanhas rochosas em volta, vivem os beduinos. Os beduinos sao os nomadas do deserto, usam camelos para se deslocarem, tendas feitas de uma especie de tapetes para dormirem, pao enfarinhado e achatado e redondo para comerem, cha de camomila e menta para beberem, tunicas brancas para vestir, lencos vermelhos e brancos aos quadrados na cabeca e o islao para filosofar. Sim, o islao e’ a religiao mais filosofica… um muculmano esta sempre pronto para filosofar. A cristandade e’ de uma moralidade mais simples, o muculmano esta pronto para discutir o que e’ ser um bom ou mau muculmano, o que se deve fazer para respeitar Alla. Maome ouviu de Alla o Quran no deserto e e’ no deserto que se fala de Alla. E’ na sobrevivencia dura e quente que o homem, aqui, encontra Deus e suas regras.

Deep Wadi Rum

O taxi pa’ra e estamos no deserto, a tarde e’ quente. Passamos o edificio da entrada no Wadi Rum e, logo ali ao lado, os sete pilares da sabedoria de Lawrence. Nao sao bem sete e nem sequer e’ o mais interessante isto que nos trouxe aqui. Os sete pilares sao o fim de uma cadeia gigantesca de montanhas rochosas ao lado esquerdo. Do outro lado outra cadeia rochosa. Unidas pela areia formam um corredor gigante, 1km de areia plana entre duas paredes de 1000m de altura. Em frente, bem la’ ao fundo uma rocha ou montanha que forma um trapezio quase perfeito. Pequeno. Ao fundo. Foram 7kms ate’ a’ vila Rum entre as paredes. A tenda na vila espetada na areia era da cor da areia e ao despertar, a cabeca, fora da tenda, via as paredes erguidas areia acima. E o sol a rebentar. Ao lado, uma tenda beduina com almofadas sentadas no chao para o cha’ do pequeno almoco.
A Estrada de asfalto acaba ali e deixa ficar so a areia, a rocha, e o sol, as botas e os passos. Ao fundo ainda a rocha, o mesmo trapezio pequeno ainda apesar dos 7kms. No deserto o olhar ao fundo e ao alto esbarra na distancia e perde-se. A rocha esta ja ali bem perto. Duas horas depois, bem perto. 4 horas de borracha na areia, lenco na cabeca e camelos, a rocha? Ali bem perto. E ainda, mais 20 minutos. A distancia e’ curta no olhar e longa no caminhar. A paisagem grandiosa permite a pequenez! Nos dominamos o nosso mundo e centramo-nos sempre no dobrar do joelho passante ou no esfregar da mao na areia e no fundo, bem la, nao ha… accao. Um objecto a 10kms ou 20kms tem a mesma importancia para nos. Mas aqui, tao longe e sem calculo de visao possivel, erramos sempre e sentimos a dimensao, as dimensoes, a pequenez, a proximidade, a nao accao, ate a’ inexistencia da rocha la ao fundo, oasis de miragem. Subi a duna e rebolei duna a baixo. O trapezio quase perto. As rochas do trapezio la estavam debaixo de mim, 20kms talvez desde a entrada a pe. E estavam, diziam, derretidas como Gaudi as teria feito. Derretidas pelo sol, moldadas pelos ventos. Arabicas talvez tambem as gravuras antigas na rocha e o canyon que por ali se rasgara. E agua ate’.
Les fruz, Jon et Ben sont du pays basque. Benoit dix tout le temp: “mais c’est beaux, ah?”. On parle le Francais au Wadi Rum.
Os beduinos usavam camelos. Agora usam jeeps. Mas continuam a usar as facas curvadas, punhal com cristais. E o lenco vermelho e branco e tunica. Agora usam colgate. “Voces lavam muitas vezes os dentes, nos nunca lavamos.” E muito sorridente termina “E’ que hoje lavei os meus e sinto o vento forte nos dentes!” Esconde depois a faca curvada debaixo do banco do jeep e falada boleia beduina que tambem deu a uma rapariga Alema que teve muito medo. O sorriso permanente deixou-nos de volta na vila.
A vila, na vila havia um Ali, depois outro. Um restaurante para quem faz escalada e para quem quer falar. Mecca na parede em foto e muito cha’ e nargilha. Ali tem 35 anos, e’ calmo e ja viveu no Japao. Fez de guia em Petra e depois em Wadi Rum. Ali cansou e cansado abriu um restaurante ali. Ele fala de conflito interior e projeccao desse conflito no exterior. Fala de coisas boas e mas em cada um de nos. Fala de despertar nos outros as coisas boas ou mas. Mas Ali fala principalmente de tempo. Ele fala do tempo que se da e troca. Dar tempo aos outros. Receber tempo dos outros. E fala depois de Alla e suas regras. Do tempo que se troca e das regras de Alla nessa troca. Ali fala e eu nao digo palavra. Aprendo. Viajo ali com Ali. E la fora o negro deserto e a tenda de estrelas fortes.
Ali fala tambem de mulheres. Ele nao e’ casado. Enquanto uma mulculmana de 25 anos que nao esteja casada e’ algo bizarro. Um homem pode esperar pela mulher certa ate’ bem tarde. Ali espera. E na espera fala da amiga no Egipto e troca mensagens com ela. Com a nossa ajuda a resposta vai em frances, ela e’ francesa. Foi ela que arranjou tudo aqui no restaurant, diz ele, e a parede com Wadi Rum pintado foi feita por um Catalao. “Mon amour, est-ce que tu veux m’epouse?”. Ela telefona e Ali sai a correr do restaurante euforico a falar com ela. Volta passados 20 minutos, diz que vai voltar para casa e sai. Na manha seguinte partimos areia fora.

Wadi Rum

More at http://www.flickr.com/photos/48159593@N05/tags/jordan/

No comments: