18 June 2010

Buda em Pânico

Nota: o blog estava a ficar cheio de entradas descritivas e ainda não me apetece escrever sobre americanos obesos. Podemos sempre fingir que estou a atravessar o pacifico num cargueiro, tempo propicio a' reflexao, ao tal virar-me para dentro. Portanto, resolvi verter um pouco do meu diário para aqui.

o pânico de que a viagem se acabe. E de seguida esta vontade de voltar para trás, de refazer tudo de novo. Não repetir, mas diferir refazendo. Sentir o novo sempre. Como aqui uma obsessão. Querer voltar aqueles momentos e repeti-los. Quero sorrir sempre como sorri quando me apaixonei ou cheguei ao fim da linha da noite e havia uma praia de lua cheia com gente ah minha volta que dançava a rir. Ou então o primeiro dia de escola! Aquele dia. Porque e' sempre aquele que quero. Nunca um qualquer. O indefinido, o "um pé descalço na areia" não serve neste pânico. Não serve um pé descalço. Só serve aquele teu pé descalço de Alentejo ou aquele meu pé descalço de sargaço.

E depois acalmo. Transformo de alguma forma esse aquele num indefinido um. Aquele pé descalço torna-se um pé descalço. E portanto alcancavel, repetivel. Mas se a ansiedade passou, sigo caminho a correr, em busca do próximo presente de pé descalço. Da próxima duração. Do próximo aperto, contracção de músculo e tempo.

E se digo isto e' por estar em êxtase, talvez como uma droga, uma viagem da qual não se quer sair e ao mesmo tempo já um pânico de dependência. Há, em cada um dos dias que correm por estes dias, uma duração, um acordar a meio, um olhar da consciência, em que (como se estivera no memento), nem preciso de saber do passado, ou do que estava a fazer ou pensar, em que basta aquele próprio momento . E e' tão real que todos os que se cruzam por mim tem só um adjectivo: sorridente. E' isto certamente o Nirvana. Mas este não me dura para sempre. Buda em pânico porque o Nirvana não lhe dura todas as suas duracoes.

E aqui a mais antiga de todas as minha licoes: um homem nunca resolvera todos os seus problemas, porque a pilha dos problemas e' infinita. Amigo, por debaixo do teu mais profundo e doloroso problema ha' sempre um outro que te atormentara! Não te preocupes demasiado em resolve-los. Escolhe uma boa tormenta e antes aprende a conviver com ela. E' que esta tormenta de Buda em pânico não me parece nada mal!

Digam la' que nao se nota o panico :-)

2 comments:

Filipe said...

" um homem nunca resolvera todos os seus problemas, porque a pilha dos problemas e' infinita [...] Escolhe uma boa tormenta e antes aprende a conviver com ela"

Das verdades mais verdadeiras que conheço...

Digam la' que nao se nota o panico :-)

LOL

Mexitli López said...

Mira lo que es la poetomancia, he abierto una página al azar de un libro de Russell Edson y ha salido este poema:

Oh My God, I'll Never Get Home

A piece of a man had broken off in a road. He picked it up and put it in his pocket.
As he stooped to pick up another piece he came apart at the waist.
His bottom half was still standing. He walked over on his elbows and grabbed the seat of his pants and said, legs go home.
But as they were going along his head fell off. His head yelled, legs stop.
And then one of his knees came apart. But meanwhile his heart had dropped out of his trunk.
As his head screamed, legs turn around, his tongue fell out.
Oh my God, he thought, I'll never get home.


Bon voyage Luís, y feliz fragmentación =)