06 October 2010

O “rapaz porquê” cresceu e, continuando a perguntar, deixou de querer respostas

Ao entrar no avião de Londres para o Porto, a sua voz de dez anos é a minha voz de 10 anos. O sotaque de 10 anos é muito forte. E pergunta coisas, claro. Ele quer descobrir, perguntar. A mãe não lhe diz. Mas ele não desiste de perguntar. O que é? Como é? Ele esteve em Londres uns dias. Ele vai voltar para o Porto onde as perguntas são mais difíceis. Onde há menos perguntas para perguntar? Em casa. Ele tem 10 anos, eu também. E também volto para casa, onde há menos perguntas perguntáveis. Onde a diferença se deita e descansa.

E quando ele pergunta, ele sorri pois, e salta até. Saltar de pedra em pedra na praia ou montanha enquanto faz perguntas sem parar. Sem querer sequer as respostas. Só um “Mãe, os aviões têm filhos?” qualquer. Que vai ser dele quando já não tiver 10 anos? Porque vamos parar os dois de crescer aos 10 anos? Aos 10 anos, e’ bom, e nem eu nem ele queremos voltar, como quem tem uma mãe sempre a’ mão. O avião arranca para o Porto, alguém atrás de mim troca um V por um B e eu envelheço. O imediatamente antes de chegar e’ o momento mais triste da viagem.

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