10 October 2010

O autocarro da noite

(continuação, mais pobre, do acreditar na noite, escrito numa outra insonia na noite chinesa, um tema e pergunta fundamental desta viagem: que trazemos no's da noite? que leva'mos no's deste dia para a noite? na noite nada permanece: se nao permaneco, que sou eu senao esse nao permanecer?)


O autocarro da noite entra pela noite dentro. Entra-se no autocarro ao final da tarde. Sai-se do autocarro pela manha da vida. A saída e’ de um mundo, a entrada noutro, e pelo meio, a viagem de autocarro.

A viagem de autocarro e’ uma viagem pelo vazio, pelo caos. Na china, entra-se num ponto desconhecido e, na china, sai-se noutro desconhecido.

Durante a viagem pela noite o autocarro passa territórios escuros e abana. As convicções não ficam. Durante a noite há o medo, há a desconfiança e deve-se estar preparado para morrer. Como na insónia e no acreditar na noite. E' mesmo preciso acreditar na noite!

De manha o mundo começa outra vez e temos de nos refazer de tudo. Como quem começa de novo. Pela noite dentro que levamos no's da noite? Que trazemos no's da noite? Que fazemos no's da noite? Que leva'mos no's deste dia para a noite? O autocarro da noite abana, convicções e não deixa dormir. Tens de estar preparado!

No comments: