06 September 2010

Amérdica

Os dois últimos mexicanos que representam muito do que vi e senti nesta Amérdica do norte e centro.

O recepcionista
As histórias de cruzar o deserto para o outro lado (estados unidos) repetem-se. Aos 17 anos foi com um tio pelo deserto, 4 dias, 2 dos quais sem comida e com pouca água, la chegaram ao pais do dinheiro. Ai fez o secundário, e começou a trabalhar, um pouco de tudo, construção civil, pintura, lojas e um filho que agora tem 2 anos. Um dia regressava do trabalho em Nova Iorque, um carro segue-o, manda-o parar, mostram a identificação da policia. “Legal or illegal?” “Illegal sir” “Me dieran la ?fenolia?” “Es el peor que te poden dar”. Aos 23 anos chega deportado ao seu México, vai para a grande Cidade do México. E’ o recepcionista do hostel no centro histórico e oferece marijuana de fumar aos seus convidados americanos que lhe dizem revoltados: “Why the fuck you want go back to my stupid country? People are stupid there man!”. “Me gusta la diferencia y bueno…” (o polegar e o indicador dizem dinheiro). Este rapaz usa um tom de voz inocente e humilde, dizia que queria aprender português e pedia-me conselhos para como estudar. Há rapazes com cara de bonzinhos, que querem conhecer as coisas curiosamente e viver uma vida boa. Mas o mundo em que nasceram, muitas vezes, não os deixa.

O homem que cheirava cola
O último mexicano que me disse algo tinha as calcas rotas e parecia que me queria roubar. Olhou para mim e pôs a mão dentro das calcas de ganga sujas e largas. Dai, bem do centro na frente, sacou uma lata amarela, verteu um pouco numa das mãos e encostou de imediato a mão a’ boca, inspirando. Teria uns 35 anos e parecia cansado, baixou a cabeça sobre o suporte de metal. Estamos no metro da Cidade do México a caminho do aeroporto, a deixar para trás este continente.

O meu espanhol
Havia um objectivo mais ou menos fácil de atingir nesta norte/centro América: falar unicamente espanhol durante 2 meses (evitar o inglês nem sempre e’ fácil com tanto gringo a passear por aqui) e fazer o meu espanhol saltar de intermediate/fluente para expert/muito fluente. As últimas palavras que ouvi dizer em espanhol aqui foram “Usted habla muy bien espanol! Buen viaje!”. Fiquei contente. Os caminhos da aprendizagem de línguas são muito árduos (para mim, ao me nos), cheios de frustrações: o espanhol e’ fantástico por ser tão fácil.
Hasta la vista Amérdica...

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